sábado, 29 de dezembro de 2007

algumas peças gráficas


vou lançar aqui algumas peças gráficas produzidas por mim, seja na faculdade social, seja os freelas, seja na editoria de arte da fundação cultural do estado da bahia.
/foto: peça em a3 de zavan liv, cantora de reggae, peças via funceb.

publicações internas - fsba




domingo, 23 de setembro de 2007

catiguria


bebel, a vadia mais classuda de todos os tempos. foi a primeira da televisão brasileira a não justificar seus préstimos com motivos nobres do tipo "mamãe tá doente, papai me estuprava...". Bebel diz para Urbano: "que papo é esse de eu ser pura? não vem não, viu... tá sacaniando com minha cara, é?". Urbano justifica, bebel acata e completa, à la bebel: "minha mãe dizia que eu já nasci com cara de safada!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!". Eu adoro.

domingo, 9 de setembro de 2007


Borat, meu brother.

sexta-feira, 7 de setembro de 2007

é lan, véi


essa capa do cd de nara leão, de 67, é um dos meus desenhos preferidos, eu adoro. feito por Lanfranco Aldo Ricardo Vaselli Cortellini Rossi Rossini, o Lan. italiano que, de passagem pelo brasil, foi convidado por Samuel Wainer para trabalhar no A Última Hora. será que ele botou pra foder assim só porque era pra a cunhada do dono do jornal? he he he.

orfeu sou eu


não posso esquecer, o teu olhar, longe dos olhos meus... ai, o meu viver, é te esperar, pra te dizer adeus... mulher amada, destino meu... é madrugada, sereno dos meus olhos ja correu... não posso esquecer, o teu olhar, longe dos olhos meus... ai, o meu viver, é te esperar, pra te dizer adeus... pra te dizer adeus, pra te dizer adeus, pra te dizer adeus... {jobim_lamento do morro}

sábado, 1 de setembro de 2007

a bahia tem um jeito

Antônio Risério/ foto: pela permanência de todos os clichês, inclusive este.
[...]A Bahia já foi chique. Chiquérrima, como se diz. Na rampa de um teatro incendiado, Lina Bo Bardi aprontou um cinema. Lina falava de arquitetura moderna, de cultura popular (filha da Itália de Gramsci e do neo-realismo), de desenho industrial. Achava, no pique da Sudene, com Celso Furtado, que o artesanato nordestino poderia ser a base de um "design" brasileiro. Em suas aquarelas de 1929 encontramos já a atenção para as cores da vida popular. Da maquete "Maternidade Para Mães Solteiras" a vitrines e estandes, passando por artigos, roupas, capas de revistas, cenografia para teatro e cinema, Lina foi ampliando sempre o leque de seu fazer. Na base, visada antropológica e preocupação social, que viriam para iluminar atos e produtos da mestiçagem e do sincretismo brasileiros. "A função do arquiteto é, antes de tudo, conhecer a maneira de viver do povo em suas casas e procurar estudar os meios técnicos de resolver as dificuldades que atrapalham a vida de milhares de pessoas".

Lina, Koellreutter, Smetak, Widmer e Agostinho da Silva vieram parar na Bahia por desencanto e perseguição. Koellreutter fugia do nazismo; Agostinho, do salazarismo (em Portugal, somente Fernando Pessoa se solidarizou com ele - e Pessoa vale um país inteiro). Aqui, Agostinho criou o Centro de Estudos Afro-Orientais, influenciou a "política externa independente" de Jânio Quadros, propôs uma aliança entre o Brasil de Jânio, a China de Mao, a Índia de Nehru e o Egito de Nasser. Trouxe, para formar na Bahia, livre das pressões imperialistas dos EUA e da então URSS, jovens lideranças anticolonialistas da África Negra. Deixou sua marca no cinema novo e na tropicália (foi pensando nele que Caetano recitou o poema de Pessoa na performance de "É Proibido Proibir").

Mas não era só. Walter da Silveira, sério e lúcido, ensinava como ver Murnau, Fritz Lang, Eisenstein, mas também Chaplin. Tínhamos a primeira escola superior de dança do país, sob os passos e olhares de Yanka Rudzka, formando a jovem Lia Robatto. Na imprensa, artigos de Clarival Valladares, Vivaldo da Costa Lima, Carlos Nelson Coutinho, Thales de Azevedo, Luiz Carlos Maciel. No teatro, Martim Gonçalves e Hélio Eichbauer, ensinando Brecht e transmitindo as lições do Actor's Studio, Stanislavski via EUA. Pierre Verger, um dos "founding fathers" da antropologia visual, passava fotografando. Diógenes Rebouças fazia o Hotel da Bahia e o estádio da Fonte Nova. Rubem Valentim levava Jacob Gorender, autor dessa obra-prima que é "O Escravismo Colonial", ao Axé do Opô Afonjá. O ateliê de Mário Cravo era um agito só. Carybé desenhava a cidade.

Coisa rara, coisa fundamental: a cultura boêmia e a cultura universitária andavam então de mãos dadas, entrelaçadas. Não havia um "cordon sanitaire" entre o "campus" e a praça. Entre a escola e a rua. E, em meio aos jovens estudantes, estavam Glauber Rocha e Caetano Veloso.

buceta na cara




Um artista plástico britânico montou a cara do Tio San com imagens de sexo explícito. Se armou, hein, tio... Buceta na cara...


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Agora que resolvi todos os pepinos que norteavam minha vida, que eu tô trabalhando, ganhando dinheiro (e bem, por sinal - fazendo o que gosto! morram de inveja!) eu vou voltar a escrever para cá...

segunda-feira, 27 de agosto de 2007

póin

Panis et circenses

Eu quis cantar//Minha canção iluminada de sol//Soltei os panos sobre os mastros no ar
//Soltei os tigres e os leões nos quintaisMas as pessoas na sala de jantarSão ocupadas em
nascer e morrer//Mandei fazer//De puro aço luminoso um punhal//Para matar o meu amor
e matei//Às cinco horas na avenida central//Mas as pessoas na sala de jantar//São ocupadas
em nascer e morrer//Mandei plantar//Folhas de sonho no jardim do solar//As folhas sabem
procurar pelo sol//E as raízes procurar, procurar


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voltar-ei para isso aqui. em breve impressões sampais nada banais.

sexta-feira, 4 de maio de 2007

Século menos um, Sexo, Mulheres


Tiago Nery

Em pleno século XXI, quiçá num dos graus máximos de pós-modernidade, disparam uma dessas; lamentável, deveras. Homens (?) opinando (??) sobre mulheres e seus comportamentos (???). Bem, eu só sei é que não sou obrigado. Se meus colegas de gameta estão certos, mulheres, se preparem (justo vocês que se firmaram tão "porretas" durantee quase só um século enquanto os outros continuam aí a milênios tentando, tentando, tentando...), vocês, minhas lindas, terão de vestir cintos de castidade e só fazer no papai-e-mamãe. Ah, sim, claro - como não - quando nós, homens fodedores de bucetinhas rosas, mandarmos, não esqueçam: chupem até gozar e engulam no final... Tsc, tsc, lamentável esses caras...

Pra acabar: mulheres são divinas, amo-as de qualquer maneira, sendo como for, sem pudores, sem maiores valores... Pra quê? Gosto é de quem se assume e ponto. Segue os melhores (?) trechos.

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Homens descrevem o que é a "mulher fácil"

Como o machismo segue presente na sociedade brasileira e ser chamada de "mulher fácil" não é algo animador.Confira as características de uma "mulher fácil":

Dizem sim a tudo: Estar sempre pronta e disposta para os homens pode se transformar no maior de seus erros. "Geralmente uma mulher fácil é aquele que diz sim a tudo, no sentido que se convidam para algum lugar, convido para tomar uma bebida... ela diz sim, convido para dançar, ela também aceita. Daí para conseguir um "algo mais" não passa de um mero detalhe.

Em outras palavras, nós não gostamos que elas digam sim a tudo", diz Rodrigo, 33 anos. Usam roupas muito sexy: Está bem que as mulheres queiram mostrar os atributos que Deus (e às vezes o bisturi) proporcionou a elas. Porém, quando uma mini-saia se torna uma vestimenta constante eles podem interpretar mal.

Mas a primeira impressão que me dá é essa", assinala Paulo, 28 anos. Tomam atitudes mais "ousadas": Para alguns homens, tudo está ligado à maneira que as mulheres se desenvolvem frente ao sexo masculino. "Falar alto para chamar a atenção a todo o custo e rir exageradamente também são sinais disso", comenta Patrício, 47 anos.

"Eu identifico as mulheres fáceis quando sem explicação elas começam a falar de homens, sexo, e coisas que não tem a ver com o que está sendo dito na hora. Dizem coisas assim sem nenhum motivo para tal atitude", completa Nicolas, 23 anos.

"Quando te chamam muito, te oferecem uma bebida na balada sem te conhecer ou quando te pedem o telefone antes que você pense em dar são fatos marcantes", assinalam Juan, 34, Dante, 32 e Matias, 34. Tomam iniciativa exagerada: Para os homens, uma coisa é ser ousada, mas liberal; outra é ser sempre uma mulher que eles esperam que seja apenas nos momentos de intimidade.

Redação Terra

quarta-feira, 25 de abril de 2007

tá tudo errado

tá tudo errado e tenho dito.

Fui mal-tratado na faculdade por uma aluna que insistia que a grade do curso de jornalismo, leia bem: jor-na-lis-mo era grande e ruim demais. Ela argumentava (sic): pra quê tanta redação? pra quê tanta matéria opitativa? Essa faculdade é muito da cara... Em São Paulo, por exemplo é tudo mais barato... Acredita ela, tolinha.

Pensei e argumentei eu, o tolinho 2: não, as redações são fundamentais pra aprender a escrever, se com as 5 redações os alunos sequer sabem colocar vírgulas, formar orações simples, períodos e parágrafos coesos, imagine com menos...?! As opitativas são show de bola também, é oficina, complemento da teoria... Mas pra quê o idiota aqui foi dizer isso?!

Estressadíssima ela dizia, aos berros, vale lembrar: ISSO TUDO É PORQUE QUEM PAGA A FACULDADE É PAPAI, É PORQUE PAPAI TEM DINHEIRO PRA PAGAR A FACULDADE. AGORA SE TRABALHASSE DURO QUE NEM EU PRA SABER O QUE É PAGAR AS CONTAS, O QUE É PAGAR A FACULDADE, EU QUERIA VER SE IRIA ACHAR A FACULDADE BARATA... Ha ha ha!!! (risadinhas de satisfação diabólica, de lado de boca, com o olho semi-cerrado, risadinhas daquelas que disparamos quando saciamos uma vontade maldita de calar a boca de alguém, e, o que é pior: conseguir)

Pois é, conseguiu. O idiota aqui calou a boca. Me senti ofendido, violado, magoado. Agora vamos lá: o que eu tenho com a questão do pagamento da faculdade dela? Se ela, uma aluna já coroa - deve ter mais de 40 anos, certamente - trabalha e paga a faculdade é maravilhoso, há pessoas que sequer têm dinheiro pra pegar ônibus, ainda mais pra trabalhar, estudar e pagar os estudos. Eu acho tudo tão massa, tudo tão legal. Acho massa minha família pagar meus estudos, acho massa ter quem me banque, quem pague as minhas despesas e quem credite em mim, inclusive, dinheiro.

Não é válido que ninguém dite o que é certo, quais comportamentos são válidos ou, o que é pior, achar que todo um sistema (no caso a faculdade) deve girar em torno de um único eixo: minha vidinha de merda e meus probleminhas vulgares e imbecis. Meu salário pouco - justificado certamente por uma má capacitação profissional - e quaisquer problemas que sejam que ela carregue, não justifica a violação que a mim foi feita. Vale lembrar um clichê antigo: é sempre bom tratar as pessoas bem, cada um carrega uma grande angústia, um sofrimento seu... Violência é isso também, é invadir o som de pessoas com palavras e brutalidades gratuitas.

Ando muito frustrado com o comportamento dos que serão futuros jornalistas, pelo menos dos quais tenho visto, a maioria esmagadora, diga-se de passagem. Em palestra recente de Caco Barcelos, um cartaz imenso no palco convidou-me a sair da palestra: pela legalização do diploma - algo assim - pouco importa, uma bobagem. Jornalistas diplomados? Ah, já sei: burros passado o recibo, claro, essas coisas burocráticas são a cara do nosso país. Faz parte, deve ser culpa de Lula, vamos lá, companheiros, que temos mais ainda por vir. Pra mim basta que: escreva, apure e sugira pautas; contextualize, aceite e respeite, principalmente respeite.

Ética? Respeito? Esqueça essas coisas, menino, elas servem pra quê? Vamos instaurar uma barbárie com perfis fakes e disprar mentiras conspiratórias à la KGB. Isso, meninos e meninas, vocês estão certos. Vingança é um prato que se come frio e pratos frios são meus preferidos, mas esse eu passo, por questão de preferência e de força maior - caráter e essas coisas que a gente sempre esquece quando se trata de pessoas, essas que a gente se bate pela rua vez em quando.

quinta-feira, 12 de abril de 2007

ARTE

ARTE//

verdão em tempos de crise


meu pé de acerola. que delícia de casa essa minha, até fruta no pé tem, pra pegar com a mão. mas como eu sou ousado, pego com a boca; dá também, viu. muito bom

segunda-feira, 9 de abril de 2007

Aristóteles Toti



E tenho tido. Tiago Nery.

Salvador Nery

Baiano que fugiu pra sampa e não me levou, mas eu ainda assim amo.

Floberla Espanca


Florbela Espanca pra um'alma espancada.

domingo, 8 de abril de 2007

Adobe design-jornalismo

anti-pré-projeto da página de contato leitor-autores do pocket ISMOS.
opinião, divergências, idéias, cores, trocas. depois bato um print mais legal do pocket e mostro pra vocês.

/me mergulhado no mundo visual. design é tudo.

quinta-feira, 29 de março de 2007

Photoshop dos 60's - Wahrol


Tiago Nery

Wahrol teria sido mais um bicha fechativa norte-americana. Teria, se não tivesse visto arte em serigrafia e repetição das (já) massantes imagens usadas na e pela lógica das produções de e para a massa. Bananas, Marlyns, vacas, caixas de papelão e fósforo, Elvis e outros objetos, comidas e ícones dos anos 60 foram espectularizados por um louco consumista que nada mais fazia que photoshopizar as coisas; mas na década de 60, na década de 60, bitch! Pois é, coisa nova, minha gente; coisa nova...

plasticidades


Tiago Nery

Novas propostas, análises destruidoras, mesas redondas, quadradas, banquinhos. Mesclas, contatos, trocas. Blogues, textos, rua, falar. Alunos, produção, doutora, zé ninguém, eu. Interpenetrações, espelhos, você. Cabelos, museu, cultura, coca-cola. Photoshop, Roy, Pop Art. Vai Cega, minha mãe, tia Santa, seu vizinho. Carro 1.0, sexo, mochila roxa, borracha. Tabus, limites, certo, interior. Errado, executivo, interior, mouse, ensino, quintal. Periferia, cachorro, pele. Discursos, discussões, discursões. Acadêmico, vulgar, nada. Etnia, cor, amor, nós. Quando chegar eu aviso, tá? Imagem por Dumas, palavras e vírgulas por mim e reunião gostosa por nós.

speakeando tudo

Tiago Nery

Falar, falar, falar. Pouco importa quem há de gostar.
Só sei é que vou verborrijar; se é que existe esse tal jeito de conjugar.
Parei de rimar - porque nem tudo é ar - e eu quero mesmo é falar.

imagem: eu mesmo, brincando de inverter posições e cores.

Nota - ABAN

Nota de esclarecimento - comentários no site da Agência:

Por motivos outros, alguém estava (ou está, não sei mais...) postando comentários sobre matérias minhas e de colegas no site. O conteúdo era sempre o mesmo: ataques pessoais, chiliques de ordens diversas e asneiras de intelectuais desempregados...


"Dá pra ver que é a mesma pessoa, ligue não, meu velho. É coisa de gente desocupada.", disse Peu Campos a mim. Como ligar? Mas devo uma explicação aos leitores e amigos. Em respeito ao meu blogue, a mim e aos leitores, retiro o post que coloquei em tom de deboche e peço desculpas pelo eventual incômodo.

Em tempo: esse tipo de coação configura crime. Assédio moral via internet pode sim ser detectado. Já há, em Salvador, inclusive, uma jurisprudência responsável por esse tipo de deliquência (vara de pequenas causas - shopping Barra). Pode-se, inclusive, interceptar a Polícia Federal por se tratar de um crime de cunho nacional. A polícia entra com a busca, via internet mesmo, e detecta o deliquente que pratica a ação podendo predê-lo até mesmo em flagrante.

Os valores para indenização variam, uma vez que esse tipo de ato acarreta danos morais e materiais, visto que o site é porta de entrada para os estagiários no mercado de trabalho. Só pra esclarecer, caso persista: advogados já forama acionados para abrir o processo e continuar com as investigações. Não há ameaças, há fatos probaitos, que estão em aberto e constrangindo a mim e meus colegas de estágio.

Em tempo 2: ataques de perfis fakes e afins no meu scrapbook (orkut) e de amigos estão incluso no processo e eles estão incomodados também. Sandra Midlej falou com o advogado dela e eles estão analisando o caso juntos. Como já sabemos de quem se trata, o principal, ou melhor: a principal suspeita já foi mencionada para o início, o ponto de partida das eventuais investigações a cerca. Eu gosto, e prefiro, ficar em paz; então é melhor ficar por aqui mesmo. E tenho dito.

Saudações mais que cordiais, Tiago Nery.

sábado, 10 de março de 2007

go away, motherfucker

Tiago Nery

Ora, ora, a arrogância, prepotência e cinismo em pessoa resolveu descer o Equador e pairar sobre o Trópico de Capricórnio; no calor brasileiro e no concreto paulista. É incrível ver in loco como o fulano é odiado, e mais ainda ver como ele reage a tudo: rindo e acenando; me lembrou Madagascar, o filme: "ria e acene, rapazes". E foi o que o tal, depois de atazanar a vida de muita gente em Sampa fez: riu e acenou.

Bush, a persona non grata de Loló Helena, o facista disfarçado, ou não, do mundo, caiu cá, sobre nós como uma bomba; quase daquelas que os EUA adora jogar por aí... Bloqueios do trânsito, polícias e policiais com toda a incompetência e brutalidade que vêm, eventualmente, com eles, manifestações nas ruas, Paulista 'bombando', fogo pelas ruas e até gostosa nua.

Bem, do ponto de vista político não me interessa saber se é interessante para o Brasil a negociação do etanol, se foi um acordo pragmático, se é uma reconcialiação da América do Norte com a América do Sul que está para acontecer desde o 11 de setembro e que não aconteceu, se eles negligenciaram a relação conosco e que agora quer voltar atrás... Do que importa? Bush é promoter de guerras, discórdia e desgraça. Ainda com a cara mais lavada do mundo diz que: "meu país é acolhedor e tem compaixão com os pobres". Faz-me rir.

Pois é, caros, mas ele já foi. Há idiotas disparadores de frases feitas, clichês, lugar-comum que adora dizer por aí que tudo que é bom dura pouco, ou o tempo bastante para se tornar inesquecível (nossa, brega demais - aliás até o brega é melhor, é original, sabe). Então, Bush durou pouquinho por aqui... Agora só me resta lamentar tal desgraça no meu país. Essa visita do Tio Sam, viu? Vou te contar... Deus é pai, não é filho, não é padrasto; nem Tio; ainda bem.

domingo, 4 de março de 2007

4 pares de horas com Rita Lee

Tiago Nery


ANTES: Insônia como sempre, nada de dormir. Vira pra um lado e pra o outro e nada. Nem os remédios tarja preta resolvem, às vezes até vai um Rivotril 2 mg, mas efeito que é bom não vem. Nesse dia o sono foi pouco: das 05:30 às 09:00. O ritual ao acordar é café e cigarros. “Eu tenho que acordar sozinha, sem nenhuma interferência, vou levantando de péssimo humor”, me alerta a Rita Lee cover. Nem pense em manter qualquer tipo de relação civilizada ou contato contemporâneo com ela. A empregada chega, arruma tudo e começa a preparar o almoço em silencio absoluto; olha pra Lia e a cumprimenta com um balançar de cabeça, nada mais. Pra o nosso encontro confessa que ficou muito ansiosa, elétrica a manhã toda. Almoço nem pensar: não almoça, só janta. Depois é pensar a roupa para sair. Algo novo sair com um cara que ela nunca viu na vida. E mais: contar coisas da sua vida, detalhes e pormenores íntimos. Certamente há golpistas no Orkut, onde nos conhecemos, mas acho que não tenho muito talento...

Como não rola um almoço, foi ao salão dá um jeito nas madeixas ruivas ou alaranjadas, vi logo que curte um visual mais arrumado. Detalhe: arrumado não pode ser classificado como algo classudo, ela não chega a ser uma executiva de tailleur. O cabeleleiro é um grande amigo, papo pra lá, papo pra cá e se passam 2 horas e quase nada feito. Chega em casa já atrasada e mal deu tempo pra se maquiar. A filha quem seria a maquiadora; “ela antes fez artes cênicas, mas não curtiu. Daí foi estudar maquiagem a agora quer ser médica”, desabafa sobre os surtos da filha. “Me passou só um lápis e um batom e lembrava o tempo todo que estava atrasada pra o encontro com o amigo”. Reclama sempre que o cabelo estava com cor de salsicha vagabunda. “Daquelas que quando você põe na água ela solta aquela tinta laranja, sabe como é. As (salsichas) boas não soltam essa tinta escura”, diz rindo.

TUCURUVI: Sairíamos da estação Tucuruvi. Marcamos o encontro às três da tarde. De um lado da rua um cara gordo e suado grita que recarrega cartuchos em uma hora por 15 reais. Vou à banca acender um cigarro e confirmo que os paulistas nem sempre são simpáticos: “tá aí o isqueiro ó...”, e aponta pra um lugar com nada... Quase uma hora de atraso e a Lia me aparece correndo. Reconheci logo pelos cabelos em tom alaranjado bem forte e a semelhança com o figurino Rita Lee era explícita. Em meio àquele tanto de gente e informação no Tucuruvi, a chamei logo. Me deu um abraço, rimos e ela brincou com o abismo entre nossas alturas, cerca de 25 cm. O marido a acompanhava, super tenso, perguntou pra onde íamos porque ele poderia nos levar de carro numa boa, ele de fato tinha uma expressão preocupada. Dispensei e disse que a proposta era pegar metrô, se perder e se achar. Ele não gostou e continuou insistindo. Logo com quem: eu detesto horários, não me dou muito bem com eles, não sou metódico. A Lia também queria se ver logo livre dele. Para conforto próprio ele decidiu um horário para pega-la: “às seis da noite estou aqui então!”. Vale lembrar: ninguém programou hora nenhuma, ligaríamos ok?!

Já livres do cara, fomos até o mapa da estação e descobri que eu seria o guia da paulista na terra natal dela. Brincando, me dizia que nada sabia da cidade e que tinha 12 anos que não saia só de casa. Claro que não acreditei, mas o pior é que era verdade. Como alguém pode morar por quase 50 anos numa cidade e não conhecê-la? E eu pensando em explorar a cidade com ela... Bobinho. Tá certo. Compramos 10 bilhetes de metrô e programei o seguinte: Estação da Luz com Museu da Língua Portuguesa, Liberdade e Avenida Paulista. Tudo via metrô e baldiações. Fiquei muito “de cara” com a insanidade da Lia. Ela não sabia por quais catracas entrar e se quer sabia colocar o bilhete na máquina. Perguntava: “onde é que eu ponho isso aqui?”, referindo-se ao bilhete da passagem. Tentava entrar pelas catracas de saída e estava realmente perdida. Era engraçado. O metrô era coisa do outro mundo. As pessoas olhavam e desconfiadas, às vezes, se futucavam e faziam comentários paralelos. Provincianos em pela Sampa. Muitos outros passavam batidos no maior estilo New York.

METRÔ: Já lá dentro, sentamos no fundão. Esticamos as pernas nas cadeiras da frente e Lia estava feliz por sua liberdade condicional com o jornalista em busca de um personagem estranho. No caminho fui explicando como funcionava um metropolitano, suas paradas, estações e baldiações. Fala dos seus 18 anos, quando andava mais pelo subsolo, e lembra como é o metrô as seis da manha: “lotado demais, parece que as portas vão prensar a gente como sardinha”.
A parada na Luz já se anunciava e de lá saíamos para a Estação da Luz. A rua nos aguardava, centro de São Paulo, e Lia estava tensa. Algumas vezes olhava para o chão como quem foge de alguém. Preferi não comentar e deixar as coisas rolarem mais pra frente. Íamos o caminho todo conversando sobre coisas variadas e bizarras do tipo: quantos irmãos você tem e se sente frio nos pés durante a noite. Sim, ela sente frio nos pés durante a noite. Já era final da tarde e em pouco tempo a noite ia chegar. O tempo até ali estava morno, uns 25 graus, mas com o cair da noite ele em breve ia pra uns 16 ou, no máximo, 18 graus. O vento gelado me lembrava que, graças à qualquer coisa, não estava em Salvador. Na Luz foi tranqüilo, um passeio e nada de interessante, talvez uma casa velha que invadiram e transformaram em estacionamento. Um cara quase cai da bicicleta se virando para olhá-la, mas na verdade, perto dali aquele bando de gente estava mais preocupado era em voltar pra casa. Dentro da estação uma sinalização muito grande avisa que é proibido fumar. Ela se encosta na grade olha pra a enorme placa – quase cinco metros de altura, e faz cara de arrasada com direito a mão na cabeça e balançadas para um lado e pro outro.

O Museu da Língua Portuguesa estava fechado e resolvi pular para a Liberdade. Lá foi mais interessante. Assim fomos à direção da ponte que une a saída do metrô com a entrada clássica de lâmpadas orientais e postes vermelhos. Os orientais, a maioria de origem chinesa e tailandesa – fiquei sabendo que os japoneses estão em minoria lá, corriam de um lado pra o outro e se atrapalhavam com o português na hora das vendas. Logo um cara falou: “oi Rita Lee, tudo bem com você?”, um pouco sem graça ela apressava o passo e respondia: “tudo sim”. Eu vestia uma calça quadriculada e de repente vem duas meninas andando e fofocavam: “olha a calça dele”, assim que elas viraram apareceu a Lia. No impulso se perguntaram: “é a Rita Lee?”. Claro que nos divertíamos com essas figuras mais bizarras que nós. Subindo a ladeira rumo às lojinhas de artefato japa, encontramos três roqueiros de shopping. Um deles gritou: “OLHA A RITA LEE!”, na hora fiquei tenso com medo de um auê maior. Na dúvida eles continuavam olhando e perguntavam o tempo todo enquanto andávamos se ela era ou não a Rita. “Fala sério que é ela, cara...”, me perguntava um deles. Parece que a dúvida os deixou mais quietos. A Lia me conta sobre sua banda, sobre problemas antigos com ex-participantes que já não fazem mais parte da atual. Rolava muita droga, alguns ainda eram alcoólatras pra completar. O marido já foi passado pra trás e conta que o ex-sócio deve a eles “um Big Brother (um milhão) em dinheiro, sabe?”.

AV. PAULISTA: Bizarrices a parte, o roteiro agora é a Paulista. Tínhamos uma baldiação para fazer, teríamos que ir até a estação Paraíso e de lá ir rumo à Trianon-Masp. Muita informação para um baiano acostumado com a não mais pacata Salvador. De fato eu tinha que guiá-la, enclausuraram a mulher e sair sozinha nem pensar. Começo da noite, 05:50 e chegamos na Paulista. Descobri que havia uns 15 anos que a Lia não passava por lá, a não ser de carro e sempre com alguém. Andou muito por aquelas bandas na época de adolescente com as irmãs. Fugia de casa pela janela pra as baladas na noite paulistana. O pai espanhol era super rígido com a educação das filhas. “Ah! Mas naquela época era tudo bem mais tranqüilo, nada de metrô, tudo na paleta mesmo”, lembra Lia. No centro da cidade inventava casos pra chamar a atenção das pessoas. Dizia que em tal prédio uma pessoa ia se jogar e já começava o auê. Na Paulista tem o prédio da Gazeta e sua enorme torre. “Eu vinha tanto aqui na Gazeta nos programas de auditório. Na época eles colocavam as meninas mais bonitas na frente e nós ganhávamos brindes pra estar lá. Porque eu mais nova dava um caldo legal, viu!”. E que tal uma parada? Comer algo, tomar um café, talvez beber um álcool (eu, porque a Lia não bebe). Paramos num boteco no maior estilo “trash”. Daqueles de madeira e balcão de alumínio com coxinha gordurosa e suco de laranja nos fundos. Comemos uns grudes bem duros e nem tão bons assim. Quando deu umas 06:20 se lembra que a família devia estar de cabelos em pé. E profeticamente o celular toca. O telefone apagou? Daí se deu conta que a bateria tinha descarregado. Ok, vamos que vamos ao papo que está bom.

O filho que mora num interior de São Paulo, abriu um barzinho e já não agüenta mais, vai voltar. Assim como eu, a Lia adora São Paulo, acha que não sai de lá mais. Agora não curte a violência que predomina. Conversando sobre o interior do filho debocha e diz que lá não tem assalto relâmpago, tiroteio... Eu pergunto se tem algumas prostitutas e ela fala que também não tem. “Nossa! É o fim dos tempos!”, eu disparei e rimos bastante. Depois de meia hora de descanso, caímos mais uma vez na extensão dos 2,8 km da avenida. Eu perguntava pra onde íamos e ela cantava: “deixa a vida me levar, vida leva eu...” Falei então que podíamos ir a Fnac comer um daquelas doces bem gostosos. Concordou com a sugestão e para lá nós fomos. Quase 1 hora de caminhada e chegava tudo menos a Fnac. “Olha lá a torre da Gazeta, a Fnac é logo ali”, lembrou ela. Ainda bem. Já cansados fomos ao Café para sentar e eu tentar decidir do que se trataria a minha matéria. Cardápio: torta holandesa com chantilly e calda de chocolate para ambos, um café pra ela e pra mim uma coca bem gelada, nada melhor.

SANTA RITA DE SAMPA: Qual foi o dia mais interessante da Rita Lee Cover? Como escrever sobre as 24 horas de tal figura? Penso que seria o dia do encontro da inspiração, ou da musa inspiradora com a personagem cover. O dia da gravação do Acústico Mtv. Depois de 11 anos destilando por ai todo o seu poder de erva venenosa, a Lia ia de fato conhecer a Rita. O ritual de ansiosidade se repete. Quase do mesmo jeito que ficou ansiosa para o encontro comigo, claro que a expectativa era bem menor, afinal não sou Rita Lee. Nada de dormir, muitos cigarros, café e comida zero. Lá no show confundia o público e a Rita ao vê-la fez um sinal de cumplicidade; piscou o olho e acenou discretamente. Depois do show tinha a fila de autógrafos e lá estava a Lia. Algumas pessoas mesmo sabendo que ela era a cover, queriam o seu autógrafo. Já chegava a hora de conhecer a Rita ali de pertinho. “Uai, o que é que eu estou fazendo aí?!”, disse a Santa Rita de Sampa. A Lee brincou fazendo movimentos de espelho e agradeceu a Lia por ter escolhido ela. Ela me conta, talvez pela sétima vez, todos esses detalhes com muito entusiasmo e sempre os repete como se nunca tivesse me contato, inspirada e feliz.

No café da Fnac ficamos por três horas. Foi o tempo de resgatar as lembranças e historias bizarras. Em 2003 desfilou na Leandro de Itaquera no carro principal. Estava devidamente autorizada, substituindo a Rita que se encontrava hospitalizada. Em um show beneficente dos dias das crianças, uma senhora muito elegante chorava e pedia o autografo dela. Ofereceu uma bolsa de couro branco para que ela autografasse. Não conseguia convencer a distinta senhora de que não era a Rita Lee. No final, a senhora disse que ainda ela sendo a cover, queria o autografo.
Enquanto comíamos a torta me fala de experiências bizarras em banheiros públicos. E se eu fosse a Lia, teria trauma deles. Na saída de um show foi ao banheiro feminino. Lá tinha um homem escondido que a esperava estrategicamente. Ele a agarrou e roubou um beijo. “Meu marido não sabe disso até hoje”, confessou. Disse que tinha que beijar a Rita Lee de qualquer forma. Em Serra Negra uma mulher no banheiro tentou agarrá-la também. “Ela foi me empurrando, me empurrando contra a parede e disse que eu não saia de lá sem ter o que ela queria”. Foi trágico, mas lembrando consegue se divertir. Lamenta os fanáticos que não conseguem manter um clima legal.

BIBAS: Trouxe-me a relação de amor que tem com os gays. Mas avisa: “calço 36, viu?”. Me fala dos amigos gays, mas não revela nomes - na verdade revela, mas não posso lascar a seda aqui: as meninas são enrustidérrimas. O marido sonhava com uma filha mulher e ela sonhava com um filho homem, então as pessoas mais próximas diziam se fosse menino, seria gay. Sonhava que o filho fosse gay, adoraria. “Quando ele era pequeno tinha um jeitinho sabe?”, gesticula com as mãos meio moles. “Ai que tudo! Meu filho é gay”, levanta as mãos pra o céu em reverência e agradecimento à suposta homossexualidade do filho. “Mas aí ele foi crescendo, falando grosso (nas últimas palavras engrossa a voz), eu já o vi ‘catando’ as mina... Aí eu desanimei”, fala aos risos e caindo para o lado, característica ao rir.

Um casal de namorados gays se separaram; um ficou de cama e ela deu logo um jeito: mandou o ex voltar com o cara pra acabar logo com o auê . “Ah biba fresca, toda mole na cama, não queria comer, só arrastando correntes”. Confesso que ria bastante com essas historias, ela conta de um jeito peculiar, balança as mãos, faz caras e bocas e super a vontade fala sobre tudo em meio aos ricos e cultos da Fnac. O papo tava bom, mas certamente sua família estava preocupada e eu já pensava mesmo em ir, afinal não é muito bom passear por debaixo da terra muito tarde. Já tinha conteúdo para desenvolver algo sobre a Lia.

DEPOIS: Saímos mais uma vez na Paulista. Começamos a brincar andando pelo meio das duas pistas e a falar árabe quando passávamos por um ponto de ônibus ou quando tinha alguém sozinho andando pela rua. Na verdade precisávamos de um orelhão para que ela ligasse pra a casa dela; tinha que avisar à família que estava viva. Durante a ligação descobrimos que o marido dela estava no Tucuruvi desde as seis horas da noite como ele mesmo havia determinado. A filha estava junto com o marido ligando para hospitais, delegacias e até no IML tentaram, mas em todos os casos só depois de 48 horas podiam começar as investigações em busca do paradeiro da Rita Lee Cover e de quebra o meu também...

Estação Brigadeiro. Vazia e tranqüila. Pegamos o metrô e em meio àquela situação me passei da estação que devíamos fazer a baldiação. Resultado: fomos parar na estação final Imigrantes. Tínhamos que voltar até a estação Ana Rosa e de lá partir pra sentido Tucuruvi. Passaríamos mais meia hora passeando até chegar lá. No caminho me confessou que há muito não se sentia tão livre, tão realizada. Queria muito isso, estar no meio de pessoas, andar pela rua, se divertir e desligar um pouco da paranóia de ser uma coisa que não é. Viver uma responsabilidade que na verdade não lhe cabe. Todos querem que ela se comporte como a Rita, esperam dela trejeitos da Lee e não permitem se quer uma desafinada.

Senti uma relação de amor e ódio. Ao mesmo tempo em que adora se vestir com figurinos inusitados, balançar as mãos e cantar como a Rita, detesta viver enclausurada e cercada de cuidados. Agora quem havia ficado tenso era eu. Qual seria a reação do marido dela quando nós chegássemos ao Tucuruvi? Não sabia mesmo, eu desconhecia-o completamente. No caminho a Lia me tranqüiliza, diz que dei um dia a ela que há 12 anos ela não tinha. Agradece e diz que precisava ter vivido tudo aquilo. Eu penso que é uma coisa simplória sair por uma capital pra conversar e produzir mais uma matéria, que passará batida por tantos. Fui presenteado com um anel de prata – o anel de Atlantis, disse que me dará proteção. A Lia é a cover da Rita Lee, é uma figura engraçada, liberal e ousada. Mas ao mesmo tempo é uma mãe de família que mora naquele interior onde o filho mora, lembra? Aquele onde não tem nem putas... Na verdade, é mais uma mina de Sampa, branquela, que fala carregando o sotaque e tem medo de ser assaltada.

24 horas

Tiago Nery

Makingof da matéria 4 pares de horas com Rita Lee cover em São Paulo. Passeando, papeando e enrolando, sai pelo centro - Luz, Museu da Língua Portuguesa e Pinaoteca, Liberdade e Av. Paulista. Em outubro/06.


Tentativa de makingOf

Pois é, e 24 horas é o tema, mas não é Jack Bauer. A priori seria fácil falar de personagens que conheço ou os quais já fiz trabalhos anteriores. Só pra listar: Elyette Magalhães – perua da high society baiana e cunhada de alguém que certamente você conhece, ou algum amigo ou parente exótico que tenho às pencas. Passeando pelo Orkut me apareceu a Rita Lee. Não era um fake ou a própria, era a cover, a oficial, como a dona da personagem gosta de lembrar. Uma figura aparentemente simpática a qual me daria uma boa pauta. Fiz o convite e sugeri o trabalho. Quatro dias e vem a resposta e vamos combinar, veio à jegue: a paulista aceita o baiano para entrevistas e passeios numa boa. A viagem pra São Paulo já estava marcada, não por conta desse trabalho, mas já que lá vou eu, vamos à produção.

A minha proposta inicial era o dia do encontro dela com a Rita, no show de gravação do acústico Mtv. Ela me contava sempre por msn com muito entusiasmo como se deu esse fato histórico na vida de um cover. Sempre que a encontrava on-line, nós conversávamos por horas sobre tudo e eu sempre procurava saber dos pormenores da vida de um cover. Ainda mais que cover, Ritinha é show de bola, 'meu'... A Lia, Rita Lee cover, já fez de tudo e gosta muito do espiritual, muito mística e ligada à família, me pareceu uma louca saudável; nada de drogas pesadas, só o cigarro dos caretas, esse aí bastante. Pensei em um passeio pela louca São Paulo, a metrópole dos sonhos dos meus pobres conterrâneos que por cá muitos deram errado ou não. Nada melhor do que rodar por centros movimentados, ver a reação das pessoas, brincar e desligar um pouco do social.

De fato ela é estranha. Não pelo cabelo ou por ser cover. Já morou no Mato Grosso com índios em uma tribo onde realizava partos e auxiliava as índias que estavam se tornando mães. Me confessa um monte de vícios alem do cigarro; adora sapos e canetas, tem uma coleção enorme de ambos. Filhos grandes e criados, vive em uma grande casa na ZL de São Paulo, no Parque São Lucas. Nossos primeiros contatos foram por e-mail, Orkut e msn. Me fala sempre que sai em São Paulo com seguranças e eu acho estranho; muitos artistas não usam segurança, porque um cover haveria de usar?

Um dia colocou a cam para que eu pudesse vê-la. Assim que fazia uma brincadeira - vale lembrar que ela sempre fazia uma brincadeira - ria e caia para o lado. Conversávamos sobre absolutamente tudo. A apuração era um pouco complicada; para Lia, era muito difícil se manter em um mesmo assunto por muito tempo, no mesmo instante que falava sobre show, acabava caindo em um assunto completamente diferente...

Tudo certo, malas prontas, bloquinho de notas da Aban, caneta de New York - presente da Elyette - em punhos, laptop na mochila e lá vou eu no vôo 6393 to: Guarulhos/SP. Chegando a noite, já em casa e acomodado liguei pra ela. De fato era a primeira vez que ela me ouviu falar; eu já havia ouvido sua voz por voice no MSN, mas não podia falar por conta do laptop não estar com o microfone. Bastante simpática brincou com meu sotaque e me chamava de baianinho. Eu ainda tinha uma viagem pra Floripa que precisava rever datas... Depois de resolvido os problemas no bizarro Shopping Paulista, liguei pra ela novamente e marcarmos segunda-feira às 03:00 no metrô Tucuruvi. A depender do que role no nosso encontro, a minha matéria pode ser sobre esse dia. Acho que tem mais chances de ser esse mesmo; é interessante falar sobre algumas horas com a Rita Lee cover em Sampa.

quarta-feira, 28 de fevereiro de 2007

você sente o cheiro do cu do povo?

Tiago Nery

O carnaval de Salvador certamente renderia a Castro Alves uma bela temática de estudo e escrita. Castro Alves foi um baiano abolicionista, um mestre com honras cabíveis pela poesia que produziu. Navio Negreiro é de seus poemas mais extensos e mais belos; rico, plural, doloroso e baiano; quase como o nosso carnaval, quase como os negros (tema principal do poema) no carnaval... Nos traz versos quase contemporâneos e recheia meu texto com sapiência, com estrofes que parecem ter fotografado o carnaval que pula-se com tanta orgasmo e transformado-as no meu objeto de consumo preferido: palavras (dita, escrita, mediada...). Como a elite, em pleno século XXI (homens pós-modernos), quase a mesma do séc. XVIII, que desconhece a não-tênue questão social entre negros e brancos e pobres e ricos em que vivemos.


Era um sonho dantesco...
O tombadilho
Que das luzernas avermelha o brilho.
Em sangue a se banhar. Tinir de ferros...
Estalar de açoite...
Legiões de homens negros como a noite,
Horrendos a dançar...

Negras mulheres, suspendendo às tetas
Magras crianças, cujas bocas pretas
Rega o sangue das mães:
Outras moças, mas nuas e espantadas,
No turbilhão de espectros arrastadas,
Em ânsia e mágoa vãs!


Houve o tempo em que o carnaval era democrático (quase, porque em um sistema capitalista nada é democrático, muito menos a política). Houve flexões no sistema de brincar o carnaval na Bahia. Se antes só não ia atrás do trio quem morreu, (porque o trio elétrico conduzia o povo) agora só vai quem pode pagar... E quem pode pagar caro. O mais impressionante é que o circuito Barra-Ondina, lançado pela “engajada” embaixadora do UNICEF, Daniela Mercury, é prioritariamente para a classe média e classe média alta. O povo participa; os pobres, pretos, “feios” e desdentados estão lá também, mas como sempre, às margens, no sentido semântico da palavra e arquitetônico do espaço.


E ri-se a orquestra irônica, estridente...
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais...
Se o velho arqueja, se no chão resvala,
Ouvem-se gritos... o chicote estala.
E voam mais e mais...

Presa nos elos de uma só cadeia,
A multidão faminta cambaleia,
E chora e dança ali!
Um de raiva delira, outro enlouquece,
Outro, que martírios embrutece,
Cantando, geme e ri!

BRANCÃO - Eu estava na Barra, quinta-feira de carnaval, passeando pela pipoca, vendo o movimento, observando os transeuntes e vendo como os negros estavam sendo tratados na capital mais negra do mundo. Capital que espalha fotos ridículas, de um fotografo pífio pela cidade inteira; dizem que o objetivo é o resgate da cultura negra... Faz-me rir: gastam mais de 3 milhões de reais e só me remete à incompetência generalizada, crônica e aguda (como esse dinheiro não poderia ter sido usado...). Como todo brasileiro, nordestino e baiano, sou fruto miscigênico, mas as heranças européias predominam. Sou união de Barletta com Ribeiro com Cetraro com Nery e até da Silva acha na minha família... Minha avó era índio-descendente; tenho uma mãe quase índia com pele clara, um pai quase italiano e sai moreno dos cabelos lisos...

No entanto o capitão manda a manobra,
E após fitando o céu que se desdobra,
Tão puro sobre o mar,
Diz do fumo entre os densos nevoeiros:
"Vibrai rijo o chicote, marinheiros!
Fazei-os mais dançar!..."

E ri-se a orquestra irônica, estridente...
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais...
Qual um sonho dantesco as sombras voam!...
Gritos, ais, maldições, preces ressoam!
E ri-se Satanás!...


A minha árvore genealógica tinha que estar aqui para tentarmos entender o porquê fui tanto tratado como gringo quando circulei pela pipoca. Os gringos, os de verdade, estavam como sempre curtindo a folia sem maiores preocupações, havia policiais olhando por eles... Quando cheguei a algum pra entrevistar, em inglês, percebi que os vendedores ambulantes começavam a fazer qualquer coisa pra chamar a minha atenção. Resolvi travar diálogo com um deles: “oi, beleza? Você tá achando que eu sou gringo, é?”, perguntei a Anderson, 19, vendedor de cerveja... “Só pode, véi... Esse cabelo, essa cara de gringo, todo brancão... Compre uma gelada aí, véi...”. Anderson me diz que se a polícia tiver que bater em mim ou nele, certamente baterá nele... Mesmo que esteja trabalhando assim como eu também estava...

Já passamos por algumas formas de carnaval. Da segunda metade do século XX para cá, chegaram os trios elétricos que romperam com a festa elitizada dos clubes e mansões. Só que hoje, o trio elétrico é quem atende à elite. Com o passar do tempo, esse trio foi transformado em mercadoria e instrumento de ganho de grana. Então nasceu a corda para cercá-lo, surgiram os blocos pagos, acentuou-se as disparidades sociais... Hoje, ainda é um modelo em crise. Não tem mais como avançar e ele continua excluindo cada vez mais...


Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus!
Se é loucura... se é verdade
Tanto horror perante os céus?!
Ó mar, por que não apagas
Co'a esponja de tuas vagas
De teu manto este borrão?...
Astros! noites! tempestades!
Rolai das imensidades!
Varrei os mares, tufão!

Quem são estes desgraçados
Que não encontram em vós
Mais que o rir calmo da turba
Que excita a fúria do algoz?
Quem são? Se a estrela se cala,
Se a vaga à pressa resvala
Como um cúmplice fugaz,
Perante a noite confusa...
Dize-o tu, severa
Musa, Musa libérrima, audaz!...


NAVIO NEGREIRO - Dentro do cercado, claramente delimitando quem é quem; seja pelo abadá, seja pela pele... Sempre a salvo, protegida, a maioria branca domina. Nas cordas estão os negros. São eles os responsáveis por provocar um paradoxo visual; separar os brancos dos outros negros — que permanecem fora da área limitada ao bloco e, originalmente, são a alma, a cor, o ritmo, as cores, a beleza e feiúra, alegria e tristeza, o sossego e o terror, a paz e a violência do carnaval. O lugar destinado à maioria é, literalmente, à margem da festa, fora das cordas, onde a violência é uma constante — fruto de uma tensão social, da convulsão que vivemos disfarçando e que, simplesmente, não sumiria porque “é carnaval”.

Mesmo assim sobra espaço para a alegria. Disso não há dúvidas, e ela não é pouca, vem das mais variadas formas, mas vem. Talvez a euforia, ou o comodismo, impeça-nos de olhar para o outro lado e ver o que segrega, o que aparta, o que aumenta a distância já tão grande, inclusive, claro, fora da folia. Desta vez, não há bairros, não há carros ou roupas que digam: eu sou elite e você, não. É o mesmo espaço, o ritmo, a cidade, a alegria, o medo e a segurança que o negro cede ao branco (parênteses para quanto se paga por esse serviço quase escravo: 15 reais, água, pão, bolachas de chocolate; luvas e raramente protetores auriculares). A corda nas mãos negras separa as pessoas e vomita em nossas fuças a enorme desigualdade brasileira, principalmente soteropolitana, cidade prioritariamente negra, que faz questão de escondê-los em bairros pobres longe da badalada orla. Apartheid tão real que nem a alegria de um carnaval consegue unir.


São os filhos do deserto,
Onde a terra esposa a luz.
Onde vive em campo aberto
A tribo dos homens nus...
São os guerreiros ousados
Que com os tigres mosqueados
Combatem na solidão.
Ontem simples, fortes, bravos.
Hoje míseros escravos,
Sem luz, sem ar, sem razão...

São mulheres desgraçadas,
Como Agar o foi também.
Que sedentas, alquebradas,
De longe... bem longe vêm...
Trazendo com tíbios passos,
Filhos e algemas nos braços,
N'alma — lágrimas e fel...
Como Agar sofrendo tanto,
Que nem o leite de pranto
Têm que dar para Ismael.


CONTRACULTURA – O espetáculo do carnaval, não menos ridículo que a exclusão sempre presente em Salvador, foi a atitude de completo elitismo do camarote de Gilberto Gil, comandado por sua mulher, Flora Gil. O slogan do Expresso 2222 dizia: "Camarote 2222/Aqui é o novo endereço/torça para ser convidado/até olhar de fora vale a pena". Quem foi e quem é o nosso ministro Gil, um dos mentores da contraculturw baiana, aquele mesmo que trabalha num Governo Federal (poderia eu dizer que trabalha para nós?) em que a frase rápida de fácil entendimento e mais fácil aceitação ainda é: "Brasil, um País de Todos/Governo Federal". Que já andou disparando por aí: "Sou brasileiro e Não Desisto Nunca". Não precisamos sequer ir muito longe, aqui pertinho mesmo, em Salvador; a Prefeitura sugere ser de: Participação Popular.

Nesse caso, de completa alienação e dominação, é justo citar Carlinhos Brown, que também fala em apartheid na festa; ele, que, depois de alcançar sucesso, lasca o verbo com quem pisou nele: a elite. Depois do Camarote Andante (paradoxal a idéia e, com certeza, não menos proposital), este ano a novidade da festa é o Bloco Pipocão. Em um Carnaval que caminha acentuando cada vez mais as desigualdades entre as pessoas que nele estão, qualquer iniciativa que lembre dos sem abadás e sem camarote - logo, a não-elite - soa como forma de “burlar” o sistema comercial da festa e serve para distinguir artista de mero cantor de bloco ou de trio e ministro de mero coadjuvante passivo. Mas, já que é Carnaval, mais uma vez vamos fazer de conta que tudo é festa, que ano que vem melhora, que “faz parte”, que é culpa de Lula...

BANDEIRA EMPRESTADA: Ninguém melhor do que Castro Alves, repito: tão distante e tão contemporâneo, pra finalizar a análise dos negros ou pobres ou sem abadás ou tudo junto do carnaval soteropolitano. Somos o povo que empresta a bandeira que cobre a infâmia e covardia, que transforma tudo em festa e que contesta a bandeira quando nos falta... Silenciamos, passíveis de uma aliteração numa estrofe que fala de Brasil, brisa, beijo e balanço. Pois é, quase como o carnaval, quase como um navio negreiro...

Existe um povo que a bandeira empresta
P'ra cobrir tanta infâmia e cobardia!...
E deixa-a transformar-se nessa festa
Em manto impuro de bacante fria!...
Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é esta,
Que impudente na gávea tripudia?
Silêncio. Musa... chora, e chora tanto
Que o pavilhão se lave no teu pranto!...


Auriverde pendão de minha terra,
Que a brisa do Brasil beija e balança,
Estandarte que a luz do sol encerra
E as promessas divinas da esperança...
Tu que, da liberdade após a guerra,
Foste hasteado dos heróis na lança
Antes te houvessem roto na batalha,
Que servires a um povo de mortalha!...

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2007

gonzo no carnaval II

Tiago Nery

Foi só ACM perder sua hegemonia, que as principais notícias, nos meios de comunicação comandados por ele ou não, da folia baiana não foram nada boas. E ver cenas de violência, roubos e furtos variados deixa qualquer um em pânico. Sair com essa impressão não é nada bom, mas saímos na segunda noite de apuração do carnaval baiano. Pós-trauma do Porto da Barra (que em anos de carnaval nunca vi mais marginal), resolvemos ir pelas ruas da Barra até os camarotes, para mais uma noite de badalações, famosos, cabelos lisos (e loiros), beijos, roupas caras, drogas, dance music, trance e axé music.

O que havia sido facílimo antes, agora era o inferno em terra: a maioria dos camarotes não nos deixou subir; as desculpas eram as mais variadas e nem sempre convincentes. Expresso 2222, às seis da noite, nos informa que a entrada da imprensa é só às 19:30. Dada a hora, voltamos e, como promessa, ouvimos que "talvez conseguíssemos entrar às 23 ou 23:30...". Daniella Mercury, de tão antipática que é, tem até uma assessora – que no primeiro dia havia sumido - que é tão ou mais insuportável do que ela: a imprensa só entraria se estivesse cadastrada no camarote, nada de cadastros na Prefeitura, me disse com rostinho de esnobe. Bem, começava a chover e tínhamos em punho uma máquina e nosso objetivo ali não era tomar chuva na rua...

Continuamos a andar na reta e tentávamos achar possíveis explicações pra esse bairrismo com a imprensa local - o que é uma bobagem tremenda. Mas viva o Brasil e a sua democracia (burocracia – burros-cracia, misturando latim e português: governo de burros). Mais um camarote à vista: Camarote Energia, bancado pela Petrobrás. Na entrada, depois de muito blá, blá, blá, bate rádio, chama gente e espera, aparece Cristina, a simpática assessora que nos permitiu a entrada. O Energia tem influência da nova proposta do Presidente Lula, as fontes renováveis de energia. A decoração é mais Brasil impossível: cores fortes, plantas pelos ambientes, negras belíssimas trajadas à la Ilê Ayê, trancinhas e massagens (sem trocadilhos com ‘massagens’, por favor).

O que me impressionou e que não vi em nenhum outro camarote, pelo menos os que me deixaram entrar, foi - digamos assim - a responsabilidade social deles. Havia rampas de acessibilidade por todo o camarote - deficientes se locomoveriam sem maiores preocupações. Já na entrada, as belas negras, entregavam somente às mulheres uma bolsinha com dois preservativos. Conversei com Verônica, a dona da empresa que montou o camarote e ela me explicou como tudo aquilo funcionava. Foi uma explicação bem amarrada; na fala dela tinha desde assessoria de imprensa da Petrobrás até semiótica das novas tecnologias, gostei mesmo.

Mas já era mesmo hora de ir. Próximo destino seria o camarote do Jamil, Sou Praieiro. Combinamos com a assessora que voltaríamos para fotos do local e foi o que fizemos. Depois de quase 20 minutos, convencendo o segurança a chamá-la, ele finalmente foi. Magali desceu e nós subimos. Algumas fotos, entrevistas rápidas, revi Gustavo, amigo de faculdade, revi Tiago Souza amigo da época de escola (todos trabalhando, mas ganhando, já o de cá...). Agora, era hora de beber (hidratar), comer e recarregar as baterias com sanduíches AM-PM, Sonho de Valsa e sorvetes Haagen-Dazs... Por conta de empecilhos na entrada, perdemos o melhor do camarote: a parte em que Jamil fazia uma brincadeira com as pessoas no seu camarote...

Pra onde ir agora? Ondina? Resolvemos tentar com a belíssima Alessandra, mais uma vez, entrar no Oceania e conseguir mais uma entrevista. Entramos, como eu já disse, mas volto a afirmar: estava um inferno. Vestimos a blusinha da imprensa e subimos. Camarote lotado e a mesma coisa do dia anterior: corpos sarados, cabelos lisos e roupas caras.
Como o ambiente já era conhecido, fomos tentar uma entrevista com Toni Garrido: em vão. Na entrada do toalete, a mulher dele me diz que ele daria uma coletiva no final do show. Mas o final do show seria dali a pelo menos duas horas e nós tínhamos menos de 20 minutos no camarote. Fomos embora com muitas fotos na máquina. A maioria dos posers que queriam porque queriam ser fotografados; pouco importa onde vai ser veiculado. É imprensa!!!

Descansando em pé na porta do camarote Oceania, me dou conta que estou a poucos metros do Beco da Off (Off Club, boate gay mais freqüentada da cidade) e surgem personagens verdadeiramente folclóricos, quase míticos... Os gays e lésbicas estavam super à vontade celebrando o carnaval. Havia um homem enorme, quase dois metros de altura; era um mulato forte de cabelos raspados com colares de Gandhy, turbante, bota e calcinha branca, só isso mesmo; pulava, dançava, descia e subia do chão freneticamente, causou um verdadeiro frisson ao redor.

Fomos até o Expresso 2222 (afinal, já eram 11 horas e o máximo que podíamos ouvir era um não; um sonoro e maldito não...). Lá, meu espírito jornalístico se uniu ao dom da mentira de um tio meu. Disse pra uma assessora (diferente da que havia me atendido antes), que a anterior havia mandando ela nos dar a credencial às 11 horas. Muito fácil: entramos. Depois, pedi perdão a Deus por ser um menino mau (aliás, dizem que meninos bons vão pro céu e meninos maus vão pra qualquer lugar.). Foi válido: fui pra Expresso 2222, que não chega a ser qualquer lugar...). Lá, foi o camarote mais badalado visto até então por mim, e olhe que sou rodado de carnaval. São três andares e, à medida que vai subindo, vai refinando até chegar em uma área 'vipérrima' que, pra entrar, tem que ter pulseira especial, onde nem todos do próprio camarote têm acesso. Eu, claro, tive mais de três vezes... Bem servido, com escadas em mármore, bebidas e comidas mais que à vontade, lá foi o camarote das celebridades. No sábado, dia 18, estavam lá Regina Casé (que merece parênteses por ser tão antipática, mal educada e boçal; uma verdadeira farsante 'midiática', típica carioca bairrista), Reynaldo Gianecchini, Preta Gil, Gilberto Gil, Cléo Pires, Lulu Santos, Júnior e a namorada (sic), Gisele Itié, Douglas Silva (Acerola de Cidade dos Homens) e outros...

Para Gisele Itié, era o quinto carnaval e estava adorando. Simpática e linda, se divertiu quando eu disse que era o meu vigésimo carnaval... Bem como Cléo Pires (confesso a tietagem: pedi foto e ganhei até beijo e carinho no rosto porque a chamei de maravilhosa, ui, ui...). Ambas extremamente diferentes de Preta Gil, que precisou subir no freezer e descer até o chão com dançarinas trajando calcinhas intra-uterinas fazendo movimentos lascivos de vai-e-vem e sobe e desce; as três juntas, um horror... Junior parecia um dois de paus postado ao lado da namorada (sic). As celebridades fizeram a ala VIP bombar por quase uma hora. Eu, que estava do outro lado, acabei pulando o balcão e caindo dentro do bar, expulso, cai do outro lado. Sem pulseira, sem lenço, mas com documento fiquei mais de 6 horas no Expresso 2222.

Mais uma vez meus tênis acabam com meu pé. Dessa vez, eu estava com os pés feridos de horas em pé e andando pra cima e pra baixo. No segundo andar, prestes a ir embora, Dani tentava usar o microondas pra esquentar um Hot Pocket Sadia, Anna Carolina (Anna com 2 ‘n’) acabou ajudando-a e nos tornamos amigos de infância lá mesmo (conhece o álcool?). Rimos e brincamos, descansando à beirada de uma banheira de gelo que quase arrebenta. Carnaval tem dessas coisas, é [quase] tudo fácil e não é só beijo na boca, pegação e fazer filho... Mas uma coisa é certa, a elite é quem domina a festa: sem o risco, claro, da polícia.

terça-feira, 20 de fevereiro de 2007

gonzo no carnaval I

Tiago Nery

Carnaval na Bahia. O ano todo você tem influências clássicas; ouve rock, folk, blues; os lisérgicos e alucinantes Janis Joplin, Jim Morrison e Jimi Hendrix dentre outros do tipo. É culto, inteligente e bem-humorado, não obstante basta soar o alerta carnaval que com uma credencial no pescoço já se prepara para a festa mais segregacionista do mundo. Na verdade sai no maior estilo Maria Bethânia: “bicho livre, sem rumo, sem laço...”. Primeiro carnaval como aspirante a jornalista e eu queria produzir cerca de 4 matérias, por dia. Tentaríamos (eu e Dani – também repórter ABAN) os badalados camarotes da Barra e Ondina, passeando também pelo verdadeiro carnaval: a pipoca.

Concentração: 8 de dezembro, casa de Dani. Descendo rumo ao Porto da Barra, logo de cara me debato com um japonês sendo assaltado a mão-armada. Fiquei assustado e o Porto estava muito “barra pesada”... 20 minutos depois e estávamos na entrada do camarote Oceania tentando com a belíssima Alessandra (responsável pela entrada da imprensa e dos convidados) entrar só “pra dar uma olhada”, coisa rápida... Eis que surge Mônica Carvalho (a assessora-mor do camarote – e amiga de amigos), nos liberou e sugeriu: “Jauperi acabou de chegar...”. Penso eu: conseguiríamos uma entrevista com Jauperi? Improvável demais, vamos ver a badalação, pegar uns depoimentos, tomar um pro-secco ou uma cerveja ou os dois, comer uns frios, dançar e pular pro próximo, afinal não podíamos demorar muito...

O camarote Oceania era o reflexo da festa dentro da festa. Corpos sarados, bronzeados, cabelos lisos e roupas caras passeando; uns no maior estilo poser, outros nem tanto, muitos se divertindo mesmo. O clima era agradabilíssimo e a festa estava muito bem servida, iluminada; vários ambientes com sons diferentes, alguns artistas globais e até tapete vermelho na entrada triunfal. Minha primeira fonte foi Paola, 45, italiana. Cedeu-me uma entrevista em inglês dizendo que era a primeira vez que estava no carnaval e que estava feliz: “estou adorando essa loucura, que festa louca!”, disparou aos risos, saltitante e feliz.

Percebi que haviam muitas pessoas trabalhando na festa e profeticamente a voz do coordenador da Agência surge em meu ouvido: “tudo o que você ver é pauta, querido”, ok Walter, vamos averiguar a situação dessa galera. A festa é setorizada: há os garçons fixos que ficam em mesas servindo bebidas prontas e outros que ficam passeando com a bandeja na mão servindo os convidados com vodka, cervejas... Eles ganham em média 75 reais por noite e ainda conseguem curtir a noitada badaladíssima, ainda que seja com bandejas em punhos...

Alessandra estava sempre passeando pelo camarote, perguntou-nos se havíamos visto o Murilo Rosa, disse que sim, mas que ele estava num lugar meio escondido, difícil de chagar... Ela nos relembrou Jauperi e disse que iria conseguir uma entrevista com ele. 10 minutos depois ela nos avisa que teríamos uma entrevista em 15 minutos com o cara. Corremos pra um pufe pra improvisar algumas perguntas, corremos mais ainda atrás de computador pra uma busca sobre ele: em vão, todos estavam ocupados. Feita a entrevista, adentramos no camarim depois de algumas explicações e a entrevista foi muito boa. Jauperi é simpático e acolhedor, foi muito gente boa e contribuiu com o que pôde.

Quando soou o alarme, nosso tempo com a credencial provisória já havia se esgotado, Alessandra mais uma vez nos livrou de ir embora e nos deu outra credencial de um jornalistas americanos que iriam embora... Mais 20 minutos assistindo ao show do Jauperi e teríamos mesmo de ir embora... E fomos.

Por incrível que pareça foi mais fácil do que eu pensei, no primeiro dia, a entrada nos camarotes. Consegui ainda o Sou Praieiro, do Jamil e o de Daniella Mercury. No de Jamil uns conhecidos, todos trabalhando como eu (a única diferença é que eles ganhavam, e eu não). Um grupo estilo ONG, Grupo Vida, preparadíssimo até para reanimar uma pessoa morta!

A decepção da noite, pelo menos em partes, foi para o camarote da antipática Daniella Mercury... E para ele separo um parágrafo inteiro. O ambiente é enorme, claro, com o dinheiro arrecadado... Parecia mais um baile de fantasias, as pessoas trajavam roupas e fantasias variadas e o público era basicamente GLS. Mais uma vez a credencial me facilitou a entrada em uma varanda mais do que VIP que dava pra ver o camarote sem apertos; ao lado de Lícia Fábio e de alguns fotógrafos de site e revistas famosos...

O melhor da noite mesmo foi descobrir que meu tênis, companheiro de mais de 5 carnavais já não agüentava mais o pique do dono e desmontou enquanto eu desci os váááários degraus pra ir ao banheiro; literalmente a sola largou e eu precisava dar um jeito naquilo. Sentei e, do céu praticamente, surge uma mulher com um rolo de fita crepe na cintura. Bem, tem certas coisas que só acontecem uma vez na vida da pessoa. Na minha já haviam acontecido pelo menos 2: entrar no camarote de Daniella como repórter e o tênis arrebentar lá dentro. A terceira e óbvia era: aparecer alguém com uma fita pra prender meu tênis, claro... E foi o que a cantora, compositora, produtora cultura e, na hora, amarradora de tênis fez. Viva foi um amor comigo e meus pés ficaram bem presos no sapato. Depois dessa eu só tinha uma coisa a fazer: voltar pra casa. Chovia e minha amarração não duraria mais tanto tempo de festa assim...

Táxi em Salvador no carnaval é como muçulmana de biquíni em Copacabana, mais impossível, impossível. Todos cheios e quando tinha algum vazio os desgraçados escolhiam o destino mais longe pra cobrar mais e ganhar mais. O dinheiro, sempre ele...
Fui andando da Barra até depois do Isba, onde moto-táxi buzinavam oferecendo seus serviços. Bem, eu odeio moto, tenho pavor, ojeriza e meus músculos travam só de pensar quando cai e abriu um corte no meu cotovelo esquerdo... Mas o cansaço e a vontade de adentrar em minha casa foram maiores e por míseros cinco reais, subi numa garupa e vim, de moto, pra casa.

Foi maravilhosa a minha primeira noite como jornalista, repórter, estagiário, folião e etc. Vi que há muitas trocas em jogo numa entrada da imprensa num camarote. Os mais badalados são os mais bobos, todos querem de alguma forma impressionar, uns não podem ver uma máquina, artistas nem sempre são simpáticos e lindos como na televisão e carnaval, definitivamente, é pra quem é elite, é pra quem pode pagar e dificilmente a policia vai descer o cacete.

sábado, 3 de fevereiro de 2007

2/2 não só números que se repetem

Tiago Nery

Eu vi nas últimas 2 décadas mulheres "recebendo o santo", uma na caçamba de uma pick-up estacionada à porta de minha casa; homens e mulheres em volta dela, segurando-a e dizendo: "é minha mãe, Odoyá! Salve rainha...". Um(a) travesti charmosíssima com os "seios" à mostra dançando e, digamos assim, à procura de um homem ideal; e estava tão decidida(o) a encontrar o ideal que dispensou vários não-ideias dizendo: "só quero dançar, sai...".

Dancinhas lascivas com movimento de vai-e-vem nas vielas da rua do Meio. Loiras e negões, negões e loiras, loiras e loiras, negões e negões; todos juntos... Uma libertinagem sexual estúpida... Não que eu seja contra ou reprima nada disso, afinal: são manifestações populares, cultura.

Mas Yemanjá e o Camdomblé ficam em segundo plano. A religião originalmente do negros que até hoje é mistificada, mudada de assunto e entoada ao som dos clássicos: Deus me livre e guarde, sangue de Cristo tem poder, Ave Maria mãe de Deus, Salve Rainha, tá repreendido em nome do senhor, tá amarrado, etc... A festa começa desde a madrugada, nas barraquinhas às duas da manhã, lá estão aqueles que sentem a religião, que vestem-se de branco com um propósito e que acreditam no que fazem.

Eu acho o Camdomblé lindo, acho todas manifestações válidas e caio na putaria todo ano também; só que tenho uma relação de respeito com a festa; nasci no Bomfim e cresci no Rio Vermelho, mais raiz impossível. Sou de Salvador, da Bahia; tão cosmopolita que só aqui acontece uma festa de cunho negro, num bairro de classe média, classe média-alta (predominantemente branco), em uma aldeia de pescadores e ao lado de uma Igreja Católica (caótica)... Ah! Diz aí, a Bahia é, ou não é, linda?

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2007

contraste




Tiago Nery/San Midlej (fotos)

~ dica/coisinha: ler ouvindo de esquina - Cássia Eller

Um aluno idiota perguntou: porque os fotógrafos profissionais usam mais filme PB? A professora idiota respondeu ao idiota: filmes PB facilitam o trabalhar com o contraste! (Aleluia, até que enfim alguma coisa que servisse numa aula teórica cansativa e idiota.

É verdade... E enquanto os pobres da cidade alta (inclusive a cretina classe média que só quer privilégios) arrogantemente querem um metrô, veja só a audácia; um metropolitano em plena Salvador, a soterópolis dos mais medícores, tão segregacionista que só 15 km da cidade é utilizável... Enquanto isso, a cidade baixa vai de trem e muito bem.

Quer dizer, nem tão bem assim. "Se você encostar a cabeça no 'vrido' pra descansar, é capaz de levar 'predada' na cabeça...", me contou Beto, o pintor falastrão aqui de casa que todo dia anda de trem. É, nem tudo são flores. Mas vamos combinar: as fotos por San Midlej ficou muito show.Eu dei só uma diagramada e brinquei com o enquadramento delas....

de esquna - Cássia Eller

Esquina, paranóia delirante/Atrás de uma farinha loucura, na pane... seqüencia dum papel/Não curto isso aí, mas tô ligado na parada que domina por aqui/Fumando um baseado, curtindo de leve/No pagode lá da área, eu tô esperto/No movimento que se segue, segue e vai/Eu vou levando, eu vou curtindo, até não dar mais/Tudo prossegue normal, até onde eu sei/Enquanto isso é a melhor cerveja que vem/Leva essa, traz mais uma e põe na conta/Tô sem dinheiro, tá valendo, eu tô a pampa/São várias delas passeando por aí... mas e aí/No balançar, no psiu, dentinho vem a mim/Meu 71, sei que é bom, dá pra convencer/E essa noite, ai, meu Deus, eu vou comer/A fuleragem predomina, e rola solta/Um tititi, um auê, e aí... mas e aí/No goró eu viajei, já tomei demais/Paranóia delirante eu tô na paz...

terça-feira, 30 de janeiro de 2007

vaginas ou bucetas?

Tiago Nery

~ dica/coisinha: ler ouvindo Clitóris - Titãs.

Vaginas e bucetas: entre e fique à vontade, só não fique à vontade demais pra não acabar antes do tempo. Vou falar de vaginas e bucetas, sim elas mesmas; na verdade, ela mesma. Tá, sendo mais politicamente correto: o órgão sexual feminino, a concha dita pela mamãe e aquela coisa que a vovó achava que, se encostasse em um homem (vestido e com tudo no lugar certo, por favor; sem alterações), engravidaria. Essa revolução textual nasce a partir da seguinte piada: duas vaginas estavam dialogando. Uma vira pra outra e diz: Ei, bandida, você é virgem? E a outra responde: NÃÃÃÃÃÃÃÃÃOOOO!!!! Sim, acabou a piada. O NÃÃÃÃÃÃÃÃÃOOOO é com o bocão aberto, o bocão não mais virgem...

A partir dessa explanação, cheguei à conclusão de que não eram vaginas que estavam dialogando, eram bucetas. Vaginas são sempre educadas, delicadas, rosas e depiladas. É importantíssimo os grandes e pequenos lábios estarem sempre retraídos numa posição pudica e extremamente sexual. A ponto de deixar qualquer exemplar do sexo masculino em ponto-de-bala. Sexual, sim, mas não vulgar, afinal vaginas não são vulgares, são sensuais, conservadoras e só fazem no papai-e-mamãe. Sei também que essas são as que fazem pior e saem por aí contando vantagem e fingindo serem satisfeitas sexualmente. Bobinhas. Elas são chatas porque não “dão”, acham antropofagicamente não-certo (não quero falar incorreto) e, se derem, sentem-se desprovidas da emancipação feminina que diz que: mulheres não dão, elas são conquistadas. Ora essa, precisa-se agora conquistar até mesmo vagina?! Ai, vaginas, vocês são enfadonhas; não puxam pelo cabelo, não mordem as orelhas, vestem baby-doll e fingem orgasmos... Cansei de vocês, mas não desconfie da minha sexualidade (hoje em dia tão tênue, eu confesso). Mas que buceta! (veja como é mais sonoro e gostoso de soltar, até pra isso elas são melhores). Esse tipo de problema só acontece com as vaginas, não com as bucetas.

Bucetas não estão nem aí nem aqui pra nada. Podem até ser como as vaginas: depiladas, rosas e retraídas. Mas os grandes e pequenos lábios saem para fazer a festa, não tem essa de conservação; se for pra conservar algo, que seja o orgasmo pleno, de revolucionar como o sistema chamado corpo-mente. Pergunte pras vaginas se elas sabem do que se trata isso. Desconhecem absolutamente... Sim, como eu ia dizendo, bucetas dão mesmo, dão ali no couro, dão pra homens, pra mulheres e pra homens e mulheres. Bucetas são sempre lisérgicas, fazem em qualquer posição, dentro do banheiro, e adoram uma pegação inesperada; sem essa de pegação em supermercado: “deixa que eu pego pra você”. É pegação pra valer mesmo. Bucetas se tocam e sabem como fazer bem-feito. Elas não se importam se ficarão em uma boca, nas mãos ou em partes não tão inesperadas assim...

Elas são as melhores de ser descritas. E são as mais gostosas de ser comidas. Estou certo de que Marilyn Monroe era uma vagina, um pedaço de sexo ambulante que de tão insatisfeita suicidou-se. Era como as mulheres, inclusive as jovens. Pasmem, as jovens atualmente são ou querem ser: plastificadas, siliconadas, loiras de madeixas lisas; ou seja, mais vaginal impossível. Agora veja Frida Kahlo, uma buceta daquelas! Sensualíssima em plena ausência de padrões estéticos, fundamentalmente conhecedora do seu corpo. Pergunte se ela se maquiava e tinha os cabelos loiros. Pergunte se chorava porque o marido, eventualmente, tinha amantes. Abalou-se com tantas doenças e desgraças? Lutou, trepou com homens, mulheres e homens e mulheres (polissíndeto proposital). Detestava Paris, achava europeus um saco e tinha mesmo era desejo, sexual ou não, e era assustadoramente viva; coisa de que certamente as vaginas morrem de medo.

Bem, espero que, depois de ter entrado e ficado à vontade - e se chegou até aqui é porque soube ser comedido e não fazer (ou soltar) nada antes do tempo -, tenha sentido (que delícia) o que são vaginas e bucetas; e que tenha optado por bucetas, caso essa seja a sua opção sexual, ou orientação, ou vontade de trepar mesmo (porque hoje em dia tudo tem que ser explicado). Vaginas e bucetas são, em fundamento, a mesma coisa. Em repertório, não, são abissalmente diferentes. A idéia é essa: ser uma buceta, perder a classe, abrir o bocão, engolir o que há de melhor da vida e despejar tudo no final, no formato de um belo e sonoro orgasmo, afinal bucetas não dialogam nem conversam, elas são baixa-renda mesmo, bem pão-com-ovo, elas gritam e são as melhores, sempre.

Clitóris - Titãs

Clitóris
Clitóris, Clitóris
Ah! Clitóris
Clitóris
Clitóris, Clitóris
Ah! Clitóris
Genuflexório, ah! genuflexório
Genuflexório, ah! genuflexório
Virgem surja, ah! surja suja
Corpo surja, oh! mente surja imunda
Em cada berço que esse esperma espesso inunda
Em cada fosso que esse gozo grosso suja
Papanicolaou, papanicolaou...

Frida, muito além

Tiago Nery

~ dica/coisinha: ler ouvindo Viva La Vida - Trio Marimbeiros.

Magdalena Carmen Frieda Kahlo y Calderón, Frida Kahlo para o mundo. Com longos e sempre adornados cabelos com flores ou panos, as grossas e unidas sobrancelhas enquadrando olhos sofridos, enormes saias e meias lhe escondiam a perna coxa. Seqüela da poliomielite aos seis anos, que virou trauma. Traços marcantes de um rosto pertencente a um corpo, um templo sofrido, desgastado por doenças e devotado a apenas um homem: Diego Riviera.

Essa pintora mexicana de obra singular, corrida junto com a sua vida, de traços firmes e por vezes desproporcionais, tem pintura forte, que choca. Há os que a enquadrem como surrealista; definição equivocada. Ela não fugia à realidade em momento algum, não pintava sonhos, pintava vida. Sempre dura e cruel com as doenças, acidentes, traições e eventuais prazeres. A angústia e a dor - o prazer e a morte, não são mais que um processo de existir, disse Frida. Uma mulher de cores e dores, mestiça liberta de si, muito além da época que viveu, dessa época, e presa à sua terra.

Os quadros de Frida são vida e pronto. São fases e faces, pintar completou o viver. Pinto-me por que estou muitas vezes sozinha e porque sou o assunto que conheço melhor, afirmou ela. Em uma obra de grande vigor, Frida aparece com o rosto adulto e corpo de criança, sendo amamentada por uma ama. A ama é uma índia nua da cintura pra cima, seu rosto não tem expressão, é uma máscara e de uma das suas mamas sobressaem os canais do leite com ela a sugar. O que há de mais surpreendente é a falta de contato, de emoção entre ela e a ama, contratada especialmente para amamentá-la por conta do nascimento de sua irmã quando ela tinha 11 meses o que a deixou revoltada.

Prefiro não me entreter com títulos ou adjetivos, seria mera definição, limitações de certo. Frida inspira total e completa ausência de padrões, sejam eles estéticos, morais, sociais, etc. Ela que na adolescência pertenceu a um grupo insolente, o orgulho era se apresentar em roupas masculinas. Ela ultrapassa o moderno, torna-se pós-moderna antes da própria chegar, um paradoxo constante. Logo, enquadrá-la como feia, bissexual ou qualquer estereotipo preconceituoso e preso a valores certamente questionáveis, seria um terrível equivoco.

Amor, definido por Picasso como o maior energizante da vida. “Estribe-se no amor e tudo será possível”, Santo Agostinho. Já Florbela Espanca nesse momento parece escrever para ela: “O meu mundo não é como o dos outros, quero demais, exijo demais, há em mim uma sede de infinito, uma angústia constante que nem eu mesma compreendo, pois estou longe de ser uma pessimista; sou antes uma exaltada, com uma alma intensa, violenta, atormentada, uma alma que não se sente bem onde estar, que tem saudade... Sei lá de quê.”

segunda-feira, 29 de janeiro de 2007

editorial é cafona

Tiago Nery

~ dica/coisinha: ler ouvindo Me and Bobby McGee - Janis Joplin.

Oi, eu sou um blog muito louco; uma viagem lisérgica. Testando, oi, som, ET, phone, house, me tirem de Salvador, por favor... Bem, que fique logo bem claro: esse espaço não faz apologia às drogas e ponto. É um espaço criativo, interativo e muito louco. O ser "muito louco" de hoje, não é mais o dos anos 60 ou 70. Hoje em dia "o que bate onda é oxigênio", segundo Rita Lee, depois de cheirar aspirina ralada com pó de parede e fumar bosta com papel crepom.

Aqui vale tudo, tudo mesmo. A idéia é trazer textos, imagens, sons, "dica, coisinha"... E o melhor: tudo alternativo; textos diferentes, com novas propostas, novos olhares, criativos e debochados; mas nem por isso menos críticos e analíticos.

Pode-se falar de Frida Kahlo, de Janis Joplin, dos clássicos do cinema e das inesquecíveis e lascivas frases: my name is Bond, James Bond! Meninas, fechem as pernas para não engravidarem... Nunca vi nada tãããããããooo sexual em toda a minha vida. Mas como eu ia dizendo: crônicas, perfis, análises, textos de autores sensatos e inteligentes... Enfim, aqui o que vale é sair do lugar comum.

Vamos misturar um conto gregoriano com uma tragédia grega e fazer disso aqui um caos pós-moderno. Sejam todos absurdamente felizes.