sábado, 3 de fevereiro de 2007

2/2 não só números que se repetem

Tiago Nery

Eu vi nas últimas 2 décadas mulheres "recebendo o santo", uma na caçamba de uma pick-up estacionada à porta de minha casa; homens e mulheres em volta dela, segurando-a e dizendo: "é minha mãe, Odoyá! Salve rainha...". Um(a) travesti charmosíssima com os "seios" à mostra dançando e, digamos assim, à procura de um homem ideal; e estava tão decidida(o) a encontrar o ideal que dispensou vários não-ideias dizendo: "só quero dançar, sai...".

Dancinhas lascivas com movimento de vai-e-vem nas vielas da rua do Meio. Loiras e negões, negões e loiras, loiras e loiras, negões e negões; todos juntos... Uma libertinagem sexual estúpida... Não que eu seja contra ou reprima nada disso, afinal: são manifestações populares, cultura.

Mas Yemanjá e o Camdomblé ficam em segundo plano. A religião originalmente do negros que até hoje é mistificada, mudada de assunto e entoada ao som dos clássicos: Deus me livre e guarde, sangue de Cristo tem poder, Ave Maria mãe de Deus, Salve Rainha, tá repreendido em nome do senhor, tá amarrado, etc... A festa começa desde a madrugada, nas barraquinhas às duas da manhã, lá estão aqueles que sentem a religião, que vestem-se de branco com um propósito e que acreditam no que fazem.

Eu acho o Camdomblé lindo, acho todas manifestações válidas e caio na putaria todo ano também; só que tenho uma relação de respeito com a festa; nasci no Bomfim e cresci no Rio Vermelho, mais raiz impossível. Sou de Salvador, da Bahia; tão cosmopolita que só aqui acontece uma festa de cunho negro, num bairro de classe média, classe média-alta (predominantemente branco), em uma aldeia de pescadores e ao lado de uma Igreja Católica (caótica)... Ah! Diz aí, a Bahia é, ou não é, linda?