terça-feira, 20 de fevereiro de 2007

gonzo no carnaval I

Tiago Nery

Carnaval na Bahia. O ano todo você tem influências clássicas; ouve rock, folk, blues; os lisérgicos e alucinantes Janis Joplin, Jim Morrison e Jimi Hendrix dentre outros do tipo. É culto, inteligente e bem-humorado, não obstante basta soar o alerta carnaval que com uma credencial no pescoço já se prepara para a festa mais segregacionista do mundo. Na verdade sai no maior estilo Maria Bethânia: “bicho livre, sem rumo, sem laço...”. Primeiro carnaval como aspirante a jornalista e eu queria produzir cerca de 4 matérias, por dia. Tentaríamos (eu e Dani – também repórter ABAN) os badalados camarotes da Barra e Ondina, passeando também pelo verdadeiro carnaval: a pipoca.

Concentração: 8 de dezembro, casa de Dani. Descendo rumo ao Porto da Barra, logo de cara me debato com um japonês sendo assaltado a mão-armada. Fiquei assustado e o Porto estava muito “barra pesada”... 20 minutos depois e estávamos na entrada do camarote Oceania tentando com a belíssima Alessandra (responsável pela entrada da imprensa e dos convidados) entrar só “pra dar uma olhada”, coisa rápida... Eis que surge Mônica Carvalho (a assessora-mor do camarote – e amiga de amigos), nos liberou e sugeriu: “Jauperi acabou de chegar...”. Penso eu: conseguiríamos uma entrevista com Jauperi? Improvável demais, vamos ver a badalação, pegar uns depoimentos, tomar um pro-secco ou uma cerveja ou os dois, comer uns frios, dançar e pular pro próximo, afinal não podíamos demorar muito...

O camarote Oceania era o reflexo da festa dentro da festa. Corpos sarados, bronzeados, cabelos lisos e roupas caras passeando; uns no maior estilo poser, outros nem tanto, muitos se divertindo mesmo. O clima era agradabilíssimo e a festa estava muito bem servida, iluminada; vários ambientes com sons diferentes, alguns artistas globais e até tapete vermelho na entrada triunfal. Minha primeira fonte foi Paola, 45, italiana. Cedeu-me uma entrevista em inglês dizendo que era a primeira vez que estava no carnaval e que estava feliz: “estou adorando essa loucura, que festa louca!”, disparou aos risos, saltitante e feliz.

Percebi que haviam muitas pessoas trabalhando na festa e profeticamente a voz do coordenador da Agência surge em meu ouvido: “tudo o que você ver é pauta, querido”, ok Walter, vamos averiguar a situação dessa galera. A festa é setorizada: há os garçons fixos que ficam em mesas servindo bebidas prontas e outros que ficam passeando com a bandeja na mão servindo os convidados com vodka, cervejas... Eles ganham em média 75 reais por noite e ainda conseguem curtir a noitada badaladíssima, ainda que seja com bandejas em punhos...

Alessandra estava sempre passeando pelo camarote, perguntou-nos se havíamos visto o Murilo Rosa, disse que sim, mas que ele estava num lugar meio escondido, difícil de chagar... Ela nos relembrou Jauperi e disse que iria conseguir uma entrevista com ele. 10 minutos depois ela nos avisa que teríamos uma entrevista em 15 minutos com o cara. Corremos pra um pufe pra improvisar algumas perguntas, corremos mais ainda atrás de computador pra uma busca sobre ele: em vão, todos estavam ocupados. Feita a entrevista, adentramos no camarim depois de algumas explicações e a entrevista foi muito boa. Jauperi é simpático e acolhedor, foi muito gente boa e contribuiu com o que pôde.

Quando soou o alarme, nosso tempo com a credencial provisória já havia se esgotado, Alessandra mais uma vez nos livrou de ir embora e nos deu outra credencial de um jornalistas americanos que iriam embora... Mais 20 minutos assistindo ao show do Jauperi e teríamos mesmo de ir embora... E fomos.

Por incrível que pareça foi mais fácil do que eu pensei, no primeiro dia, a entrada nos camarotes. Consegui ainda o Sou Praieiro, do Jamil e o de Daniella Mercury. No de Jamil uns conhecidos, todos trabalhando como eu (a única diferença é que eles ganhavam, e eu não). Um grupo estilo ONG, Grupo Vida, preparadíssimo até para reanimar uma pessoa morta!

A decepção da noite, pelo menos em partes, foi para o camarote da antipática Daniella Mercury... E para ele separo um parágrafo inteiro. O ambiente é enorme, claro, com o dinheiro arrecadado... Parecia mais um baile de fantasias, as pessoas trajavam roupas e fantasias variadas e o público era basicamente GLS. Mais uma vez a credencial me facilitou a entrada em uma varanda mais do que VIP que dava pra ver o camarote sem apertos; ao lado de Lícia Fábio e de alguns fotógrafos de site e revistas famosos...

O melhor da noite mesmo foi descobrir que meu tênis, companheiro de mais de 5 carnavais já não agüentava mais o pique do dono e desmontou enquanto eu desci os váááários degraus pra ir ao banheiro; literalmente a sola largou e eu precisava dar um jeito naquilo. Sentei e, do céu praticamente, surge uma mulher com um rolo de fita crepe na cintura. Bem, tem certas coisas que só acontecem uma vez na vida da pessoa. Na minha já haviam acontecido pelo menos 2: entrar no camarote de Daniella como repórter e o tênis arrebentar lá dentro. A terceira e óbvia era: aparecer alguém com uma fita pra prender meu tênis, claro... E foi o que a cantora, compositora, produtora cultura e, na hora, amarradora de tênis fez. Viva foi um amor comigo e meus pés ficaram bem presos no sapato. Depois dessa eu só tinha uma coisa a fazer: voltar pra casa. Chovia e minha amarração não duraria mais tanto tempo de festa assim...

Táxi em Salvador no carnaval é como muçulmana de biquíni em Copacabana, mais impossível, impossível. Todos cheios e quando tinha algum vazio os desgraçados escolhiam o destino mais longe pra cobrar mais e ganhar mais. O dinheiro, sempre ele...
Fui andando da Barra até depois do Isba, onde moto-táxi buzinavam oferecendo seus serviços. Bem, eu odeio moto, tenho pavor, ojeriza e meus músculos travam só de pensar quando cai e abriu um corte no meu cotovelo esquerdo... Mas o cansaço e a vontade de adentrar em minha casa foram maiores e por míseros cinco reais, subi numa garupa e vim, de moto, pra casa.

Foi maravilhosa a minha primeira noite como jornalista, repórter, estagiário, folião e etc. Vi que há muitas trocas em jogo numa entrada da imprensa num camarote. Os mais badalados são os mais bobos, todos querem de alguma forma impressionar, uns não podem ver uma máquina, artistas nem sempre são simpáticos e lindos como na televisão e carnaval, definitivamente, é pra quem é elite, é pra quem pode pagar e dificilmente a policia vai descer o cacete.