quinta-feira, 22 de fevereiro de 2007

gonzo no carnaval II

Tiago Nery

Foi só ACM perder sua hegemonia, que as principais notícias, nos meios de comunicação comandados por ele ou não, da folia baiana não foram nada boas. E ver cenas de violência, roubos e furtos variados deixa qualquer um em pânico. Sair com essa impressão não é nada bom, mas saímos na segunda noite de apuração do carnaval baiano. Pós-trauma do Porto da Barra (que em anos de carnaval nunca vi mais marginal), resolvemos ir pelas ruas da Barra até os camarotes, para mais uma noite de badalações, famosos, cabelos lisos (e loiros), beijos, roupas caras, drogas, dance music, trance e axé music.

O que havia sido facílimo antes, agora era o inferno em terra: a maioria dos camarotes não nos deixou subir; as desculpas eram as mais variadas e nem sempre convincentes. Expresso 2222, às seis da noite, nos informa que a entrada da imprensa é só às 19:30. Dada a hora, voltamos e, como promessa, ouvimos que "talvez conseguíssemos entrar às 23 ou 23:30...". Daniella Mercury, de tão antipática que é, tem até uma assessora – que no primeiro dia havia sumido - que é tão ou mais insuportável do que ela: a imprensa só entraria se estivesse cadastrada no camarote, nada de cadastros na Prefeitura, me disse com rostinho de esnobe. Bem, começava a chover e tínhamos em punho uma máquina e nosso objetivo ali não era tomar chuva na rua...

Continuamos a andar na reta e tentávamos achar possíveis explicações pra esse bairrismo com a imprensa local - o que é uma bobagem tremenda. Mas viva o Brasil e a sua democracia (burocracia – burros-cracia, misturando latim e português: governo de burros). Mais um camarote à vista: Camarote Energia, bancado pela Petrobrás. Na entrada, depois de muito blá, blá, blá, bate rádio, chama gente e espera, aparece Cristina, a simpática assessora que nos permitiu a entrada. O Energia tem influência da nova proposta do Presidente Lula, as fontes renováveis de energia. A decoração é mais Brasil impossível: cores fortes, plantas pelos ambientes, negras belíssimas trajadas à la Ilê Ayê, trancinhas e massagens (sem trocadilhos com ‘massagens’, por favor).

O que me impressionou e que não vi em nenhum outro camarote, pelo menos os que me deixaram entrar, foi - digamos assim - a responsabilidade social deles. Havia rampas de acessibilidade por todo o camarote - deficientes se locomoveriam sem maiores preocupações. Já na entrada, as belas negras, entregavam somente às mulheres uma bolsinha com dois preservativos. Conversei com Verônica, a dona da empresa que montou o camarote e ela me explicou como tudo aquilo funcionava. Foi uma explicação bem amarrada; na fala dela tinha desde assessoria de imprensa da Petrobrás até semiótica das novas tecnologias, gostei mesmo.

Mas já era mesmo hora de ir. Próximo destino seria o camarote do Jamil, Sou Praieiro. Combinamos com a assessora que voltaríamos para fotos do local e foi o que fizemos. Depois de quase 20 minutos, convencendo o segurança a chamá-la, ele finalmente foi. Magali desceu e nós subimos. Algumas fotos, entrevistas rápidas, revi Gustavo, amigo de faculdade, revi Tiago Souza amigo da época de escola (todos trabalhando, mas ganhando, já o de cá...). Agora, era hora de beber (hidratar), comer e recarregar as baterias com sanduíches AM-PM, Sonho de Valsa e sorvetes Haagen-Dazs... Por conta de empecilhos na entrada, perdemos o melhor do camarote: a parte em que Jamil fazia uma brincadeira com as pessoas no seu camarote...

Pra onde ir agora? Ondina? Resolvemos tentar com a belíssima Alessandra, mais uma vez, entrar no Oceania e conseguir mais uma entrevista. Entramos, como eu já disse, mas volto a afirmar: estava um inferno. Vestimos a blusinha da imprensa e subimos. Camarote lotado e a mesma coisa do dia anterior: corpos sarados, cabelos lisos e roupas caras.
Como o ambiente já era conhecido, fomos tentar uma entrevista com Toni Garrido: em vão. Na entrada do toalete, a mulher dele me diz que ele daria uma coletiva no final do show. Mas o final do show seria dali a pelo menos duas horas e nós tínhamos menos de 20 minutos no camarote. Fomos embora com muitas fotos na máquina. A maioria dos posers que queriam porque queriam ser fotografados; pouco importa onde vai ser veiculado. É imprensa!!!

Descansando em pé na porta do camarote Oceania, me dou conta que estou a poucos metros do Beco da Off (Off Club, boate gay mais freqüentada da cidade) e surgem personagens verdadeiramente folclóricos, quase míticos... Os gays e lésbicas estavam super à vontade celebrando o carnaval. Havia um homem enorme, quase dois metros de altura; era um mulato forte de cabelos raspados com colares de Gandhy, turbante, bota e calcinha branca, só isso mesmo; pulava, dançava, descia e subia do chão freneticamente, causou um verdadeiro frisson ao redor.

Fomos até o Expresso 2222 (afinal, já eram 11 horas e o máximo que podíamos ouvir era um não; um sonoro e maldito não...). Lá, meu espírito jornalístico se uniu ao dom da mentira de um tio meu. Disse pra uma assessora (diferente da que havia me atendido antes), que a anterior havia mandando ela nos dar a credencial às 11 horas. Muito fácil: entramos. Depois, pedi perdão a Deus por ser um menino mau (aliás, dizem que meninos bons vão pro céu e meninos maus vão pra qualquer lugar.). Foi válido: fui pra Expresso 2222, que não chega a ser qualquer lugar...). Lá, foi o camarote mais badalado visto até então por mim, e olhe que sou rodado de carnaval. São três andares e, à medida que vai subindo, vai refinando até chegar em uma área 'vipérrima' que, pra entrar, tem que ter pulseira especial, onde nem todos do próprio camarote têm acesso. Eu, claro, tive mais de três vezes... Bem servido, com escadas em mármore, bebidas e comidas mais que à vontade, lá foi o camarote das celebridades. No sábado, dia 18, estavam lá Regina Casé (que merece parênteses por ser tão antipática, mal educada e boçal; uma verdadeira farsante 'midiática', típica carioca bairrista), Reynaldo Gianecchini, Preta Gil, Gilberto Gil, Cléo Pires, Lulu Santos, Júnior e a namorada (sic), Gisele Itié, Douglas Silva (Acerola de Cidade dos Homens) e outros...

Para Gisele Itié, era o quinto carnaval e estava adorando. Simpática e linda, se divertiu quando eu disse que era o meu vigésimo carnaval... Bem como Cléo Pires (confesso a tietagem: pedi foto e ganhei até beijo e carinho no rosto porque a chamei de maravilhosa, ui, ui...). Ambas extremamente diferentes de Preta Gil, que precisou subir no freezer e descer até o chão com dançarinas trajando calcinhas intra-uterinas fazendo movimentos lascivos de vai-e-vem e sobe e desce; as três juntas, um horror... Junior parecia um dois de paus postado ao lado da namorada (sic). As celebridades fizeram a ala VIP bombar por quase uma hora. Eu, que estava do outro lado, acabei pulando o balcão e caindo dentro do bar, expulso, cai do outro lado. Sem pulseira, sem lenço, mas com documento fiquei mais de 6 horas no Expresso 2222.

Mais uma vez meus tênis acabam com meu pé. Dessa vez, eu estava com os pés feridos de horas em pé e andando pra cima e pra baixo. No segundo andar, prestes a ir embora, Dani tentava usar o microondas pra esquentar um Hot Pocket Sadia, Anna Carolina (Anna com 2 ‘n’) acabou ajudando-a e nos tornamos amigos de infância lá mesmo (conhece o álcool?). Rimos e brincamos, descansando à beirada de uma banheira de gelo que quase arrebenta. Carnaval tem dessas coisas, é [quase] tudo fácil e não é só beijo na boca, pegação e fazer filho... Mas uma coisa é certa, a elite é quem domina a festa: sem o risco, claro, da polícia.