domingo, 4 de março de 2007

4 pares de horas com Rita Lee

Tiago Nery


ANTES: Insônia como sempre, nada de dormir. Vira pra um lado e pra o outro e nada. Nem os remédios tarja preta resolvem, às vezes até vai um Rivotril 2 mg, mas efeito que é bom não vem. Nesse dia o sono foi pouco: das 05:30 às 09:00. O ritual ao acordar é café e cigarros. “Eu tenho que acordar sozinha, sem nenhuma interferência, vou levantando de péssimo humor”, me alerta a Rita Lee cover. Nem pense em manter qualquer tipo de relação civilizada ou contato contemporâneo com ela. A empregada chega, arruma tudo e começa a preparar o almoço em silencio absoluto; olha pra Lia e a cumprimenta com um balançar de cabeça, nada mais. Pra o nosso encontro confessa que ficou muito ansiosa, elétrica a manhã toda. Almoço nem pensar: não almoça, só janta. Depois é pensar a roupa para sair. Algo novo sair com um cara que ela nunca viu na vida. E mais: contar coisas da sua vida, detalhes e pormenores íntimos. Certamente há golpistas no Orkut, onde nos conhecemos, mas acho que não tenho muito talento...

Como não rola um almoço, foi ao salão dá um jeito nas madeixas ruivas ou alaranjadas, vi logo que curte um visual mais arrumado. Detalhe: arrumado não pode ser classificado como algo classudo, ela não chega a ser uma executiva de tailleur. O cabeleleiro é um grande amigo, papo pra lá, papo pra cá e se passam 2 horas e quase nada feito. Chega em casa já atrasada e mal deu tempo pra se maquiar. A filha quem seria a maquiadora; “ela antes fez artes cênicas, mas não curtiu. Daí foi estudar maquiagem a agora quer ser médica”, desabafa sobre os surtos da filha. “Me passou só um lápis e um batom e lembrava o tempo todo que estava atrasada pra o encontro com o amigo”. Reclama sempre que o cabelo estava com cor de salsicha vagabunda. “Daquelas que quando você põe na água ela solta aquela tinta laranja, sabe como é. As (salsichas) boas não soltam essa tinta escura”, diz rindo.

TUCURUVI: Sairíamos da estação Tucuruvi. Marcamos o encontro às três da tarde. De um lado da rua um cara gordo e suado grita que recarrega cartuchos em uma hora por 15 reais. Vou à banca acender um cigarro e confirmo que os paulistas nem sempre são simpáticos: “tá aí o isqueiro ó...”, e aponta pra um lugar com nada... Quase uma hora de atraso e a Lia me aparece correndo. Reconheci logo pelos cabelos em tom alaranjado bem forte e a semelhança com o figurino Rita Lee era explícita. Em meio àquele tanto de gente e informação no Tucuruvi, a chamei logo. Me deu um abraço, rimos e ela brincou com o abismo entre nossas alturas, cerca de 25 cm. O marido a acompanhava, super tenso, perguntou pra onde íamos porque ele poderia nos levar de carro numa boa, ele de fato tinha uma expressão preocupada. Dispensei e disse que a proposta era pegar metrô, se perder e se achar. Ele não gostou e continuou insistindo. Logo com quem: eu detesto horários, não me dou muito bem com eles, não sou metódico. A Lia também queria se ver logo livre dele. Para conforto próprio ele decidiu um horário para pega-la: “às seis da noite estou aqui então!”. Vale lembrar: ninguém programou hora nenhuma, ligaríamos ok?!

Já livres do cara, fomos até o mapa da estação e descobri que eu seria o guia da paulista na terra natal dela. Brincando, me dizia que nada sabia da cidade e que tinha 12 anos que não saia só de casa. Claro que não acreditei, mas o pior é que era verdade. Como alguém pode morar por quase 50 anos numa cidade e não conhecê-la? E eu pensando em explorar a cidade com ela... Bobinho. Tá certo. Compramos 10 bilhetes de metrô e programei o seguinte: Estação da Luz com Museu da Língua Portuguesa, Liberdade e Avenida Paulista. Tudo via metrô e baldiações. Fiquei muito “de cara” com a insanidade da Lia. Ela não sabia por quais catracas entrar e se quer sabia colocar o bilhete na máquina. Perguntava: “onde é que eu ponho isso aqui?”, referindo-se ao bilhete da passagem. Tentava entrar pelas catracas de saída e estava realmente perdida. Era engraçado. O metrô era coisa do outro mundo. As pessoas olhavam e desconfiadas, às vezes, se futucavam e faziam comentários paralelos. Provincianos em pela Sampa. Muitos outros passavam batidos no maior estilo New York.

METRÔ: Já lá dentro, sentamos no fundão. Esticamos as pernas nas cadeiras da frente e Lia estava feliz por sua liberdade condicional com o jornalista em busca de um personagem estranho. No caminho fui explicando como funcionava um metropolitano, suas paradas, estações e baldiações. Fala dos seus 18 anos, quando andava mais pelo subsolo, e lembra como é o metrô as seis da manha: “lotado demais, parece que as portas vão prensar a gente como sardinha”.
A parada na Luz já se anunciava e de lá saíamos para a Estação da Luz. A rua nos aguardava, centro de São Paulo, e Lia estava tensa. Algumas vezes olhava para o chão como quem foge de alguém. Preferi não comentar e deixar as coisas rolarem mais pra frente. Íamos o caminho todo conversando sobre coisas variadas e bizarras do tipo: quantos irmãos você tem e se sente frio nos pés durante a noite. Sim, ela sente frio nos pés durante a noite. Já era final da tarde e em pouco tempo a noite ia chegar. O tempo até ali estava morno, uns 25 graus, mas com o cair da noite ele em breve ia pra uns 16 ou, no máximo, 18 graus. O vento gelado me lembrava que, graças à qualquer coisa, não estava em Salvador. Na Luz foi tranqüilo, um passeio e nada de interessante, talvez uma casa velha que invadiram e transformaram em estacionamento. Um cara quase cai da bicicleta se virando para olhá-la, mas na verdade, perto dali aquele bando de gente estava mais preocupado era em voltar pra casa. Dentro da estação uma sinalização muito grande avisa que é proibido fumar. Ela se encosta na grade olha pra a enorme placa – quase cinco metros de altura, e faz cara de arrasada com direito a mão na cabeça e balançadas para um lado e pro outro.

O Museu da Língua Portuguesa estava fechado e resolvi pular para a Liberdade. Lá foi mais interessante. Assim fomos à direção da ponte que une a saída do metrô com a entrada clássica de lâmpadas orientais e postes vermelhos. Os orientais, a maioria de origem chinesa e tailandesa – fiquei sabendo que os japoneses estão em minoria lá, corriam de um lado pra o outro e se atrapalhavam com o português na hora das vendas. Logo um cara falou: “oi Rita Lee, tudo bem com você?”, um pouco sem graça ela apressava o passo e respondia: “tudo sim”. Eu vestia uma calça quadriculada e de repente vem duas meninas andando e fofocavam: “olha a calça dele”, assim que elas viraram apareceu a Lia. No impulso se perguntaram: “é a Rita Lee?”. Claro que nos divertíamos com essas figuras mais bizarras que nós. Subindo a ladeira rumo às lojinhas de artefato japa, encontramos três roqueiros de shopping. Um deles gritou: “OLHA A RITA LEE!”, na hora fiquei tenso com medo de um auê maior. Na dúvida eles continuavam olhando e perguntavam o tempo todo enquanto andávamos se ela era ou não a Rita. “Fala sério que é ela, cara...”, me perguntava um deles. Parece que a dúvida os deixou mais quietos. A Lia me conta sobre sua banda, sobre problemas antigos com ex-participantes que já não fazem mais parte da atual. Rolava muita droga, alguns ainda eram alcoólatras pra completar. O marido já foi passado pra trás e conta que o ex-sócio deve a eles “um Big Brother (um milhão) em dinheiro, sabe?”.

AV. PAULISTA: Bizarrices a parte, o roteiro agora é a Paulista. Tínhamos uma baldiação para fazer, teríamos que ir até a estação Paraíso e de lá ir rumo à Trianon-Masp. Muita informação para um baiano acostumado com a não mais pacata Salvador. De fato eu tinha que guiá-la, enclausuraram a mulher e sair sozinha nem pensar. Começo da noite, 05:50 e chegamos na Paulista. Descobri que havia uns 15 anos que a Lia não passava por lá, a não ser de carro e sempre com alguém. Andou muito por aquelas bandas na época de adolescente com as irmãs. Fugia de casa pela janela pra as baladas na noite paulistana. O pai espanhol era super rígido com a educação das filhas. “Ah! Mas naquela época era tudo bem mais tranqüilo, nada de metrô, tudo na paleta mesmo”, lembra Lia. No centro da cidade inventava casos pra chamar a atenção das pessoas. Dizia que em tal prédio uma pessoa ia se jogar e já começava o auê. Na Paulista tem o prédio da Gazeta e sua enorme torre. “Eu vinha tanto aqui na Gazeta nos programas de auditório. Na época eles colocavam as meninas mais bonitas na frente e nós ganhávamos brindes pra estar lá. Porque eu mais nova dava um caldo legal, viu!”. E que tal uma parada? Comer algo, tomar um café, talvez beber um álcool (eu, porque a Lia não bebe). Paramos num boteco no maior estilo “trash”. Daqueles de madeira e balcão de alumínio com coxinha gordurosa e suco de laranja nos fundos. Comemos uns grudes bem duros e nem tão bons assim. Quando deu umas 06:20 se lembra que a família devia estar de cabelos em pé. E profeticamente o celular toca. O telefone apagou? Daí se deu conta que a bateria tinha descarregado. Ok, vamos que vamos ao papo que está bom.

O filho que mora num interior de São Paulo, abriu um barzinho e já não agüenta mais, vai voltar. Assim como eu, a Lia adora São Paulo, acha que não sai de lá mais. Agora não curte a violência que predomina. Conversando sobre o interior do filho debocha e diz que lá não tem assalto relâmpago, tiroteio... Eu pergunto se tem algumas prostitutas e ela fala que também não tem. “Nossa! É o fim dos tempos!”, eu disparei e rimos bastante. Depois de meia hora de descanso, caímos mais uma vez na extensão dos 2,8 km da avenida. Eu perguntava pra onde íamos e ela cantava: “deixa a vida me levar, vida leva eu...” Falei então que podíamos ir a Fnac comer um daquelas doces bem gostosos. Concordou com a sugestão e para lá nós fomos. Quase 1 hora de caminhada e chegava tudo menos a Fnac. “Olha lá a torre da Gazeta, a Fnac é logo ali”, lembrou ela. Ainda bem. Já cansados fomos ao Café para sentar e eu tentar decidir do que se trataria a minha matéria. Cardápio: torta holandesa com chantilly e calda de chocolate para ambos, um café pra ela e pra mim uma coca bem gelada, nada melhor.

SANTA RITA DE SAMPA: Qual foi o dia mais interessante da Rita Lee Cover? Como escrever sobre as 24 horas de tal figura? Penso que seria o dia do encontro da inspiração, ou da musa inspiradora com a personagem cover. O dia da gravação do Acústico Mtv. Depois de 11 anos destilando por ai todo o seu poder de erva venenosa, a Lia ia de fato conhecer a Rita. O ritual de ansiosidade se repete. Quase do mesmo jeito que ficou ansiosa para o encontro comigo, claro que a expectativa era bem menor, afinal não sou Rita Lee. Nada de dormir, muitos cigarros, café e comida zero. Lá no show confundia o público e a Rita ao vê-la fez um sinal de cumplicidade; piscou o olho e acenou discretamente. Depois do show tinha a fila de autógrafos e lá estava a Lia. Algumas pessoas mesmo sabendo que ela era a cover, queriam o seu autógrafo. Já chegava a hora de conhecer a Rita ali de pertinho. “Uai, o que é que eu estou fazendo aí?!”, disse a Santa Rita de Sampa. A Lee brincou fazendo movimentos de espelho e agradeceu a Lia por ter escolhido ela. Ela me conta, talvez pela sétima vez, todos esses detalhes com muito entusiasmo e sempre os repete como se nunca tivesse me contato, inspirada e feliz.

No café da Fnac ficamos por três horas. Foi o tempo de resgatar as lembranças e historias bizarras. Em 2003 desfilou na Leandro de Itaquera no carro principal. Estava devidamente autorizada, substituindo a Rita que se encontrava hospitalizada. Em um show beneficente dos dias das crianças, uma senhora muito elegante chorava e pedia o autografo dela. Ofereceu uma bolsa de couro branco para que ela autografasse. Não conseguia convencer a distinta senhora de que não era a Rita Lee. No final, a senhora disse que ainda ela sendo a cover, queria o autografo.
Enquanto comíamos a torta me fala de experiências bizarras em banheiros públicos. E se eu fosse a Lia, teria trauma deles. Na saída de um show foi ao banheiro feminino. Lá tinha um homem escondido que a esperava estrategicamente. Ele a agarrou e roubou um beijo. “Meu marido não sabe disso até hoje”, confessou. Disse que tinha que beijar a Rita Lee de qualquer forma. Em Serra Negra uma mulher no banheiro tentou agarrá-la também. “Ela foi me empurrando, me empurrando contra a parede e disse que eu não saia de lá sem ter o que ela queria”. Foi trágico, mas lembrando consegue se divertir. Lamenta os fanáticos que não conseguem manter um clima legal.

BIBAS: Trouxe-me a relação de amor que tem com os gays. Mas avisa: “calço 36, viu?”. Me fala dos amigos gays, mas não revela nomes - na verdade revela, mas não posso lascar a seda aqui: as meninas são enrustidérrimas. O marido sonhava com uma filha mulher e ela sonhava com um filho homem, então as pessoas mais próximas diziam se fosse menino, seria gay. Sonhava que o filho fosse gay, adoraria. “Quando ele era pequeno tinha um jeitinho sabe?”, gesticula com as mãos meio moles. “Ai que tudo! Meu filho é gay”, levanta as mãos pra o céu em reverência e agradecimento à suposta homossexualidade do filho. “Mas aí ele foi crescendo, falando grosso (nas últimas palavras engrossa a voz), eu já o vi ‘catando’ as mina... Aí eu desanimei”, fala aos risos e caindo para o lado, característica ao rir.

Um casal de namorados gays se separaram; um ficou de cama e ela deu logo um jeito: mandou o ex voltar com o cara pra acabar logo com o auê . “Ah biba fresca, toda mole na cama, não queria comer, só arrastando correntes”. Confesso que ria bastante com essas historias, ela conta de um jeito peculiar, balança as mãos, faz caras e bocas e super a vontade fala sobre tudo em meio aos ricos e cultos da Fnac. O papo tava bom, mas certamente sua família estava preocupada e eu já pensava mesmo em ir, afinal não é muito bom passear por debaixo da terra muito tarde. Já tinha conteúdo para desenvolver algo sobre a Lia.

DEPOIS: Saímos mais uma vez na Paulista. Começamos a brincar andando pelo meio das duas pistas e a falar árabe quando passávamos por um ponto de ônibus ou quando tinha alguém sozinho andando pela rua. Na verdade precisávamos de um orelhão para que ela ligasse pra a casa dela; tinha que avisar à família que estava viva. Durante a ligação descobrimos que o marido dela estava no Tucuruvi desde as seis horas da noite como ele mesmo havia determinado. A filha estava junto com o marido ligando para hospitais, delegacias e até no IML tentaram, mas em todos os casos só depois de 48 horas podiam começar as investigações em busca do paradeiro da Rita Lee Cover e de quebra o meu também...

Estação Brigadeiro. Vazia e tranqüila. Pegamos o metrô e em meio àquela situação me passei da estação que devíamos fazer a baldiação. Resultado: fomos parar na estação final Imigrantes. Tínhamos que voltar até a estação Ana Rosa e de lá partir pra sentido Tucuruvi. Passaríamos mais meia hora passeando até chegar lá. No caminho me confessou que há muito não se sentia tão livre, tão realizada. Queria muito isso, estar no meio de pessoas, andar pela rua, se divertir e desligar um pouco da paranóia de ser uma coisa que não é. Viver uma responsabilidade que na verdade não lhe cabe. Todos querem que ela se comporte como a Rita, esperam dela trejeitos da Lee e não permitem se quer uma desafinada.

Senti uma relação de amor e ódio. Ao mesmo tempo em que adora se vestir com figurinos inusitados, balançar as mãos e cantar como a Rita, detesta viver enclausurada e cercada de cuidados. Agora quem havia ficado tenso era eu. Qual seria a reação do marido dela quando nós chegássemos ao Tucuruvi? Não sabia mesmo, eu desconhecia-o completamente. No caminho a Lia me tranqüiliza, diz que dei um dia a ela que há 12 anos ela não tinha. Agradece e diz que precisava ter vivido tudo aquilo. Eu penso que é uma coisa simplória sair por uma capital pra conversar e produzir mais uma matéria, que passará batida por tantos. Fui presenteado com um anel de prata – o anel de Atlantis, disse que me dará proteção. A Lia é a cover da Rita Lee, é uma figura engraçada, liberal e ousada. Mas ao mesmo tempo é uma mãe de família que mora naquele interior onde o filho mora, lembra? Aquele onde não tem nem putas... Na verdade, é mais uma mina de Sampa, branquela, que fala carregando o sotaque e tem medo de ser assaltada.

24 horas

Tiago Nery

Makingof da matéria 4 pares de horas com Rita Lee cover em São Paulo. Passeando, papeando e enrolando, sai pelo centro - Luz, Museu da Língua Portuguesa e Pinaoteca, Liberdade e Av. Paulista. Em outubro/06.


Tentativa de makingOf

Pois é, e 24 horas é o tema, mas não é Jack Bauer. A priori seria fácil falar de personagens que conheço ou os quais já fiz trabalhos anteriores. Só pra listar: Elyette Magalhães – perua da high society baiana e cunhada de alguém que certamente você conhece, ou algum amigo ou parente exótico que tenho às pencas. Passeando pelo Orkut me apareceu a Rita Lee. Não era um fake ou a própria, era a cover, a oficial, como a dona da personagem gosta de lembrar. Uma figura aparentemente simpática a qual me daria uma boa pauta. Fiz o convite e sugeri o trabalho. Quatro dias e vem a resposta e vamos combinar, veio à jegue: a paulista aceita o baiano para entrevistas e passeios numa boa. A viagem pra São Paulo já estava marcada, não por conta desse trabalho, mas já que lá vou eu, vamos à produção.

A minha proposta inicial era o dia do encontro dela com a Rita, no show de gravação do acústico Mtv. Ela me contava sempre por msn com muito entusiasmo como se deu esse fato histórico na vida de um cover. Sempre que a encontrava on-line, nós conversávamos por horas sobre tudo e eu sempre procurava saber dos pormenores da vida de um cover. Ainda mais que cover, Ritinha é show de bola, 'meu'... A Lia, Rita Lee cover, já fez de tudo e gosta muito do espiritual, muito mística e ligada à família, me pareceu uma louca saudável; nada de drogas pesadas, só o cigarro dos caretas, esse aí bastante. Pensei em um passeio pela louca São Paulo, a metrópole dos sonhos dos meus pobres conterrâneos que por cá muitos deram errado ou não. Nada melhor do que rodar por centros movimentados, ver a reação das pessoas, brincar e desligar um pouco do social.

De fato ela é estranha. Não pelo cabelo ou por ser cover. Já morou no Mato Grosso com índios em uma tribo onde realizava partos e auxiliava as índias que estavam se tornando mães. Me confessa um monte de vícios alem do cigarro; adora sapos e canetas, tem uma coleção enorme de ambos. Filhos grandes e criados, vive em uma grande casa na ZL de São Paulo, no Parque São Lucas. Nossos primeiros contatos foram por e-mail, Orkut e msn. Me fala sempre que sai em São Paulo com seguranças e eu acho estranho; muitos artistas não usam segurança, porque um cover haveria de usar?

Um dia colocou a cam para que eu pudesse vê-la. Assim que fazia uma brincadeira - vale lembrar que ela sempre fazia uma brincadeira - ria e caia para o lado. Conversávamos sobre absolutamente tudo. A apuração era um pouco complicada; para Lia, era muito difícil se manter em um mesmo assunto por muito tempo, no mesmo instante que falava sobre show, acabava caindo em um assunto completamente diferente...

Tudo certo, malas prontas, bloquinho de notas da Aban, caneta de New York - presente da Elyette - em punhos, laptop na mochila e lá vou eu no vôo 6393 to: Guarulhos/SP. Chegando a noite, já em casa e acomodado liguei pra ela. De fato era a primeira vez que ela me ouviu falar; eu já havia ouvido sua voz por voice no MSN, mas não podia falar por conta do laptop não estar com o microfone. Bastante simpática brincou com meu sotaque e me chamava de baianinho. Eu ainda tinha uma viagem pra Floripa que precisava rever datas... Depois de resolvido os problemas no bizarro Shopping Paulista, liguei pra ela novamente e marcarmos segunda-feira às 03:00 no metrô Tucuruvi. A depender do que role no nosso encontro, a minha matéria pode ser sobre esse dia. Acho que tem mais chances de ser esse mesmo; é interessante falar sobre algumas horas com a Rita Lee cover em Sampa.