sábado, 1 de setembro de 2007

a bahia tem um jeito

Antônio Risério/ foto: pela permanência de todos os clichês, inclusive este.
[...]A Bahia já foi chique. Chiquérrima, como se diz. Na rampa de um teatro incendiado, Lina Bo Bardi aprontou um cinema. Lina falava de arquitetura moderna, de cultura popular (filha da Itália de Gramsci e do neo-realismo), de desenho industrial. Achava, no pique da Sudene, com Celso Furtado, que o artesanato nordestino poderia ser a base de um "design" brasileiro. Em suas aquarelas de 1929 encontramos já a atenção para as cores da vida popular. Da maquete "Maternidade Para Mães Solteiras" a vitrines e estandes, passando por artigos, roupas, capas de revistas, cenografia para teatro e cinema, Lina foi ampliando sempre o leque de seu fazer. Na base, visada antropológica e preocupação social, que viriam para iluminar atos e produtos da mestiçagem e do sincretismo brasileiros. "A função do arquiteto é, antes de tudo, conhecer a maneira de viver do povo em suas casas e procurar estudar os meios técnicos de resolver as dificuldades que atrapalham a vida de milhares de pessoas".

Lina, Koellreutter, Smetak, Widmer e Agostinho da Silva vieram parar na Bahia por desencanto e perseguição. Koellreutter fugia do nazismo; Agostinho, do salazarismo (em Portugal, somente Fernando Pessoa se solidarizou com ele - e Pessoa vale um país inteiro). Aqui, Agostinho criou o Centro de Estudos Afro-Orientais, influenciou a "política externa independente" de Jânio Quadros, propôs uma aliança entre o Brasil de Jânio, a China de Mao, a Índia de Nehru e o Egito de Nasser. Trouxe, para formar na Bahia, livre das pressões imperialistas dos EUA e da então URSS, jovens lideranças anticolonialistas da África Negra. Deixou sua marca no cinema novo e na tropicália (foi pensando nele que Caetano recitou o poema de Pessoa na performance de "É Proibido Proibir").

Mas não era só. Walter da Silveira, sério e lúcido, ensinava como ver Murnau, Fritz Lang, Eisenstein, mas também Chaplin. Tínhamos a primeira escola superior de dança do país, sob os passos e olhares de Yanka Rudzka, formando a jovem Lia Robatto. Na imprensa, artigos de Clarival Valladares, Vivaldo da Costa Lima, Carlos Nelson Coutinho, Thales de Azevedo, Luiz Carlos Maciel. No teatro, Martim Gonçalves e Hélio Eichbauer, ensinando Brecht e transmitindo as lições do Actor's Studio, Stanislavski via EUA. Pierre Verger, um dos "founding fathers" da antropologia visual, passava fotografando. Diógenes Rebouças fazia o Hotel da Bahia e o estádio da Fonte Nova. Rubem Valentim levava Jacob Gorender, autor dessa obra-prima que é "O Escravismo Colonial", ao Axé do Opô Afonjá. O ateliê de Mário Cravo era um agito só. Carybé desenhava a cidade.

Coisa rara, coisa fundamental: a cultura boêmia e a cultura universitária andavam então de mãos dadas, entrelaçadas. Não havia um "cordon sanitaire" entre o "campus" e a praça. Entre a escola e a rua. E, em meio aos jovens estudantes, estavam Glauber Rocha e Caetano Veloso.

buceta na cara




Um artista plástico britânico montou a cara do Tio San com imagens de sexo explícito. Se armou, hein, tio... Buceta na cara...


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Agora que resolvi todos os pepinos que norteavam minha vida, que eu tô trabalhando, ganhando dinheiro (e bem, por sinal - fazendo o que gosto! morram de inveja!) eu vou voltar a escrever para cá...